Manuel dos Santos Castro (Artista plástico português que se destacou
na pintura naïf, n. 1945), Vinha na latada, 2008.
na pintura naïf, n. 1945), Vinha na latada, 2008.
Vindima
Mosto, descantes e um rumor de passos
Na terra recalcada dos vinhedos.
Um fermentar de forças e cansaços
Em altas confidências e segredos.
Laivos de sangue nos poentes baços.
Doçura quente em corações azedos.
E, sobretudo, pés, olhos e braços
Alegres como peças de brinquedos.
Fim de parto ou de vida, ninguém sabe
A medida precisa que lhe cabe
No tempo, na alegria e na tristeza.
Rasgam-se os véus do sonho e da desgraça.
Ergue-se em cheio a taça
À própria confusão da natureza.
Na terra recalcada dos vinhedos.
Um fermentar de forças e cansaços
Em altas confidências e segredos.
Laivos de sangue nos poentes baços.
Doçura quente em corações azedos.
E, sobretudo, pés, olhos e braços
Alegres como peças de brinquedos.
Fim de parto ou de vida, ninguém sabe
A medida precisa que lhe cabe
No tempo, na alegria e na tristeza.
Rasgam-se os véus do sonho e da desgraça.
Ergue-se em cheio a taça
À própria confusão da natureza.
Miguel Torga, in "Libertação", 1944
Manuel Castro, Vindima, 2008
«... De aí a nada, arregaçados, os homens iam esmagando os cachos, num movimento onde havia qualquer coisa de coito, de quente e sensual violação. Doirados, negros, roxos, amarelos, azuis, os bagos eram acenos de olhos lascivos numa cama de amor. E como falos gigantescos, as pernas dos pisadores rasgavam mácula e carinhosamente a virgindade túmida e feminina das uvas. A princípio, a pele branca das coxas, lisa e morna, deixava escorrer os salpicos de mosto sem se tingir. Mas com a continuação ia tomando a cor roxa, cada vez mais carregada, do moreto, do sousão,da tinta carvalha, da touriga e do bastardo.
A primeira violação tirava apenas a cada cacho a flor de uma integridade fechada. Era o corte. Depois, os êmbolos iam mais fundo, rasgavam mais, esmagavam com redobrada sensualidade, e o mosto ensanguentava-se e cobria-se de uma espuma leve de volúpia. À tona, a roçá-los como talismãs, passeavam então volumosos e verdadeiros sexos dos pisadores, repousados mas vivos dentro das ceroulas de tomentos…»
Miguel Torga, Excerto do livro "As vindimas" (daqui)
"Vindima" de Miguel Torga.
Editor: Dom Quixote, 2011
Sinopse
O primeiro romance de
Miguel Torga é uma homenagem ao Douro, às suas gentes e às suas
paisagens. Um livro para todos os que amam esta extraordinária região.
«Cingido à realidade humana do momento, romanceei um Doiro atribulado, de classes, injustiças, suor e miséria. E esse Doiro, felizmente, está em vias de mudar. Não tanto como o querem fazer acreditar certas más consciências, mas, enfim, em muitos aspetos, é sensivelmente diferente do que descrevi. Desapareceram os patrões tirânicos, as cardenhas degradantes, os salários de fome. As rogas descem da montanha de camioneta, a alimentação melhorou, o trabalho é menos duro. Também o rio já não tem cachões, afogados em albufeiras de calmaria. E, contudo, julgo sinceramente que não cansarás ingloriamente os olhos na contemplação do painel que pintei.» — Miguel Torga, 1988 (daqui)
Manuel Castro, Transporte do Vinho, 2005
"Uma das desvantagens do vinho é dar palavras aos pensamentos."
Samuel Johnson (1709–1784),
Citado em The Life of Samuel Johnson, LL.D. Comprehending an Account.
In Two Volumes, Volume 1, - página 250, James Boswell - Henry Baldwin, 1791.
"Enquanto está na garrafa, o vinho é meu escravo; fora da garrafa, sou escravo dele."
Citado em "Vinhos" - Página 204, de Sérgio de Paula Santos,
T.A. Queiroz, Editor, 1982
"A penicilina cura os homens, mas é o vinho que os torna felizes."
Alexander Fleming (1881–1955),
Citado em The Frugal Gourmet Cooks with Wine - página 82,
por Jeff Smith, publicado por Morrow, 1986.
Sem comentários:
Enviar um comentário