Estêvão Soares (Pintor português, 1914-1992), Vista de Lisboa, Portugal.
Lisboa
De certo, capital alguma neste mundo
Tem mais alegre sol e o céu mais cavo e fundo,
Mais colinas azuis, rio d'águas mais mansas,
Mais tristes procissões, mais pálidas crianças,
Mais graves catedrais — e ruas, onde a esteira
Seja em tardes d'estio a flor de laranjeira!
A Cidade é formosa e esbelta de manhã! —
É mais alegre então, mais límpida, mais sã;
Com certo ar virginal ostenta suas graças,
Há vida, confusão, murmúrios pelas praças;
— E, às vezes, em roupão, uma violeta bela
Vem regar o craveiro e assoma na janela.
Tem mais alegre sol e o céu mais cavo e fundo,
Mais colinas azuis, rio d'águas mais mansas,
Mais tristes procissões, mais pálidas crianças,
Mais graves catedrais — e ruas, onde a esteira
Seja em tardes d'estio a flor de laranjeira!
A Cidade é formosa e esbelta de manhã! —
É mais alegre então, mais límpida, mais sã;
Com certo ar virginal ostenta suas graças,
Há vida, confusão, murmúrios pelas praças;
— E, às vezes, em roupão, uma violeta bela
Vem regar o craveiro e assoma na janela.
A Cidade é beata — e, às lúcidas estrelas,
O Vício à noite sai às ruas e às vielas,
Sorrindo a perseguir burgueses e estrangeiros;
E à triste e dúbia luz dos baços candeeiros,
— Em bairros sepulcrais, onde se dão facadas —
Corre às vezes o sangue e o vinho nas calçadas!
As mulheres são vãs; mas altas e morenas,
D'olhos cheios de luz, nervosas e serenas,
Ébrias de devoções, relendo as suas Horas;
— Outras fortes, cruéis, os olhos cor d'amoras,
Os lábios sensuais, cabelos bons, compridos...
— E às vezes, por enfado, enganam os maridos!
D'olhos cheios de luz, nervosas e serenas,
Ébrias de devoções, relendo as suas Horas;
— Outras fortes, cruéis, os olhos cor d'amoras,
Os lábios sensuais, cabelos bons, compridos...
— E às vezes, por enfado, enganam os maridos!
Os burgueses banais são gordos, chãos, contentes,
Amantes de Cupido, avaros, indolentes,
Graves nas procissões, nas festas e nos lutos,
Bastante sensuais, bastante dissolutos;
Mas humildes cristãos! — e, em lúgubres momentos,
Tendo, ainda, cruéis saudades dos conventos!
E assim ela se apraz num sono vegetal,
Contrária ao Pensamento e hostil ao Ideal! —
— Mas mau grado assim ser cruel, avara, dura,
Como Nero também dá concertos à lua,
E, em noites de verão quando o luar consola,
Põe ao peito a guitarra e a lírica viola.
Contrária ao Pensamento e hostil ao Ideal! —
— Mas mau grado assim ser cruel, avara, dura,
Como Nero também dá concertos à lua,
E, em noites de verão quando o luar consola,
Põe ao peito a guitarra e a lírica viola.
No entanto a sua vida é quase intermitente,
Afunda-se na inação, feliz, gorda, contente;
Adora ainda as ações dos seus navegadores
Velhos heróis do mar; detesta os pensadores;
Faz guerra a Vida, à Ação, ao Ideal — e ao cabo
É talvez a melhor amiga do Diabo!
Afunda-se na inação, feliz, gorda, contente;
Adora ainda as ações dos seus navegadores
Velhos heróis do mar; detesta os pensadores;
Faz guerra a Vida, à Ação, ao Ideal — e ao cabo
É talvez a melhor amiga do Diabo!
Claridades do sul / Gomes Leal. - 2ª ed. rev. e aument.
Lisboa : Emp. da Historia de Portugal, 1901. - 349 p. (daqui)
Claridades do Sul
Volume de poesias de Gomes Leal, de 1875. onde, como o autor bem reconhece no posfácio intitulado "Algumas palavras", confluem "muitas e várias correntes do espírito humano, e muitas impressões, muitas nobres ideias do seu tempo", como sendo as influências diversas do romantismo social de Hugo, o humorismo satânico de Heine, o baudelairianismo, espelhado na visão decandentista da cidade ou no visionarismo sinestésico dos sonetos intitulados "O Visionário ou Som e Cor" ("Alucina-me a Cor! - A Rosa é como a Lira, / A Lira pelo tempo há muito engrinalada, / E é já velha a união, a núpcia sagrada / Entre a cor que nos prende e a nota que suspira.").
Aludindo ao título, o autor classifica o seu livro como sendo o "dum meridional, mas dum meridional moderno, que celebra o Sol porque desperta o homem para a ação, para a Vida e para o Trabalho e que achou curioso, no seu tempo, fazer um livro de vida, de imaginação, de ironia, de sol, e de liberdade - o mais heroico dos ideais." (daqui)
Luciano dos Santos (Pintor e professor português, 1911 - 2006),
"Rossio - Lisboa", 1947 (Praça D. Pedro IV, Lisboa, Portugal).
"Rossio - Lisboa", 1947 (Praça D. Pedro IV, Lisboa, Portugal).
Lisboa
"No largo, a manhã resplandecia. Depois dos dias de chuva, aquele sol delicioso dava à cidade a alegria de um renascimento: até dois moços que num pátio lavavam uma carruagem a baldes de água e os galegos que palravam à beira do chafariz pareciam tão satisfeitos como os canários que gorjeavam nas janelas."
Eça de Queirós (1845 - 1900), excerto de 'A Capital', 1925
A Capital é um romance do escritor português Eça de Queirós publicado postumamente em 1925, sob a orientação de seu filho José Maria Eça de Queirós. Obra iniciada em 1877, A Capital relata a história da ambição social, profissional e pessoal da personagem principal, Artur Corvelo, que acompanhamos ao longo do seu amadurecimento emocional e consequente resignação à triste realidade. A história desenrola-se por diferentes épocas e locais. Começa na sua "resguardada" infância, atravessa por uma adolescência contemplativa e termina já na sua enfadada vida adulta.
A Capital é uma obra considerada normalmente pela crítica portuguesa uma novela clássica e de qualidade sobre a antinomia das relações humanas e um retrato credível e bem-escrito do século XIX português, em particular das famosas tertúlias lisbonenses e seus defeitos e virtudes, do enraizamento das ideias republicanas, da influência espanhola na vida boémia da capital e da transformação moral geral de uma sociedade tradicionalista, sendo também considerada (apesar de ser sobre, e resultado do século XIX), de uma atualidade sarcástica sobre a mentalidade coletiva portuguesa. (daqui)
José Saramago, livro A Jangada de Pedra
Fonte: https://citacoes.in/citacoes/103147-jose-saramago-chegaram-a-lisboa-ao-cair-da-tarde-na-hora-em-que/
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José Saramago, livro A Jangada de Pedra
Fonte: https://citacoes.in/citacoes/103147-jose-saramago-chegaram-a-lisboa-ao-cair-da-tarde-na-hora-em-que/
Fonte: https://citacoes.in/citacoes/103147-jose-saramago-chegaram-a-lisboa-ao-cair-da-tarde-na-hora-em-que/
José Saramago, livro A Jangada de Pedra
Fonte: https://citacoes.in/citacoes/103147-jose-saramago-chegaram-a-lisboa-ao-cair-da-tarde-na-hora-em-que/
Fonte: https://citacoes.in/citacoes/103147-jose-saramago-chegaram-a-lisboa-ao-cair-da-tarde-na-hora-em-que/
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