George Hughes (American illustrator, 1907-1990), Learning to Ride a Bike, 1954
Aprendizagens
Era cromada e preta a bicicleta,
trazia um laço largo no volante circulando
o Natal e rodas generosas
como parecia o mundo.
Era cromada e preta a bicicleta,
trazia um laço largo no volante circulando
o Natal e rodas generosas
como parecia o mundo.
Eu, na manhã seguinte,
sem saber sustentar a rota nivelada,
o meu pai a meu lado, segurando o assento,
a sua mão: aceso fio de prumo,
em acesa confiança.
Depois, era-lhe a voz entrecortada
pelo puro cansaço de correr,
tentando harmonizar a bicicleta.
Hoje, muitos anos depois de gestos paralelos,
a minha filha sobre outras estradas,
a minha mão corrigindo o desvio de mais modernas rodas,
entendo finalmente que era emoção o que se ouvia
na voz interrompida do meu pai:
o medo que eu caísse,
mesmo sabendo que eram curtas as quedas,
mas sobretudo a ternura de me ver ali,
a entrar no mundo dos crescidos,
em equilíbrio débil,
rente à saída circular da infância.
Ana Luísa Amaral (1956–2022), What’s in a name?,
Assírio & Alvim, 2017
SINOPSE
«What’s in a Name» - A estranheza do inglês no título expressa a ambivalência da relação, de que sempre a poesia viveu, entre a coisa (nossa, do mundo) e a sua nomeação, apontando para a multiplicidade de sentidos que há neste livro. Nele se cruzam, em cumplicidade, o quotidiano e o cósmico, o poético e o político, a comoção e a ironia, o espanto e a indignação - em suma, a palavra e a vida. (daqui)
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