O Jardim
O jardim está brilhante e florido.
Sobre as ervas, entre as folhagens,
O vento passa, sonhador e distraído,
Peregrino de mil romagens.
É Maio ácido e multicolor,
Devorado pelo próprio ardor,
Que nesta clara tarde de cristal
Avança pelos caminhos
Até os fantásticos desalinhos
Do meu bem e do meu mal.
E no seu bailado levada
Pelo jardim deliro e divago,
Ora espreitando debruçada
Os jardins do fundo do lago,
Ora perdendo o meu olhar
Na indizível verdura
Das folhas novas e tenras
Onde eu queria saciar
A minha longa sede de frescura.
Sophia de Mello Breyner Andresen,
in "Dia do Mar", 1947.
"Dia do Mar" de Sophia de Mello Breyner Andresen.
Edição/reimpressão: 03-2014,
Editor: Assírio & Alvim.
SINOPSE
"Dia do Mar" é o segundo livro de Sophia de Mello Breyner Andresen, publicado em 1947 após o volume «Poesia», já publicado pela Assírio & Alvim. Aqui, como de resto em muita da sua obra, a poeta busca a perfeição, a pureza e a harmonia, utilizando alguns lugares recorrentes como o mar, a praia, a casa e o jardim.
Visitando a infância, onde aprendeu a ouvir as vozes das coisas, o mar é aqui uma fonte de purificação e um lugar onde tudo adquire sentido. Como escreve Gastão Cruz, no prefácio a esta edição, «Uma tensão dialética percorre "Dia do Mar": o poeta divide-se entre a sensação de viver intensamente o milagre do mundo […] e a consciência da impossibilidade duma vivência plena dessa maravilha, realmente apenas reservada aos deuses.»

Leo Putz, Frieda Blell (German landscape painter, 1874–1951), c. 1903.
"Queria de ti um país de bondade e de bruma
Queria de ti o mar de uma rosa de espuma."
Mário Cesariny
(Poeta, pintor, tradutor e considerado um dos grandes Mestres do Surrealismo Português, 1923–2006)
(Poeta, pintor, tradutor e considerado um dos grandes Mestres do Surrealismo Português, 1923–2006)

Sem comentários:
Enviar um comentário