segunda-feira, 15 de setembro de 2025

"Soneto do amigo" - Poema de Vinicius de Moraes


 
Ramon Casas (Spanish artist, 1866–1932), 
 Ramon Casas and Pere Romeu in an Automobile, 1901.
Museu Nacional d'Art de Catalunya, Barcelona


Soneto do amigo


Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica... 
 
 Los Angeles, 1946

Vinicius de Moraes, in "Poemas Esparsos"
 
 

Vinicius de Moraes, "Poemas Esparsos",
Companhia das Letras, 2008.


Poemas esparsos é um livro surpreendente. Força, beleza, humanidade e apuro estético - comuns a todas as obras de Vinicius de Moraes - acham-se aqui numa configuração imprevista: uma seleção de poemas inéditos, ou publicados postumamente, a que se juntaram aqueles que não foram incluídos na Nova antologia poética. 
O volume cobre um vasto período da produção do poeta: do início dos anos 30 a meados dos 70. Ao morrer, em 1980, Vinicius de Moraes deixou alguns livros inconclusos, e grande número de poemas já finalizados, alguns dos quais chegaram a ser publicados na imprensa. 
Este volume resulta de uma longa e minuciosa pesquisa em livros, jornais, revistas, arquivos e manuscritos. Não se trata, porém, de um levantamento com caráter documental: dispensaram-se esboços, exercícios, textos inacabados ou claramente recusados pelo autor, a fim de que viesse à luz apenas aquilo que está à altura das obras publicadas por Vinicius. 
No final, o leitor encontrará também, agrupados na secção "Arquivo", um estudo do percurso poético de Vinicius de Moraes assinado por Ferreira Gullar, crónicas de Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade que festejam e recordam o amigo, bem como um longo depoimento, inédito em livro, de Caetano Veloso. (daqui)



[Pere Romeu i Borràs (Torredembarra, 1862 - Barcelona, 1908) fue un promotor y animador cultural, titiritero, pintor amateur y empresario español, muy ligado al modernismo, propietario del célebre Els Quatre Gats.] (daqui)
 

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