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William Mainwaring Palin (English painter and decorative artist, 1862-1947),
Mother and Child, 1899.
Silogismos
A minha filha perguntou-me
o que era para a vida inteira
e eu disse-lhe que era para sempre.
Naturalmente, menti,
mas também os conceitos de infinito
são diferentes: é que ela perguntou depois
o que era para sempre
e eu não podia falar-lhe em universos
paralelos, em conjunções e disjunções
de espaço e tempo,
nem sequer em morte.
A vida inteira é até morrer,
mas eu sabia ser inevitável a questão
seguinte: o que é morrer?
Por isso respondi que para sempre
era assim largo, abri muito os braços,
distraí-a com o jogo que ficara a meio.
(No fim do jogo todo,
disse-me que amanhã
queria estar comigo para a vida inteira.)
Ana Luísa Amaral, in "O Olhar Diagonal das Coisas"
"O Olhar Diagonal das Coisas" de Ana Luísa Amaral
Editor: Assírio & Alvim, 2022
Um fruto reticente é a saudade:
a pele custosa à faca, olhos como
cavernas onde a faca não chega e
uma arte cirúrgica é precisa.
Não posso permiti-la no caixote
a insistir-me a alma. Por isso
insisto a arte e a minha perícia
em lhe arrancar a pele, os olhos
reticentes de Sibila.
Às fatias depois — tarefa
igual —
Já em Inglaterra, Marguerite aprendeu inglês e iniciou o estudo das línguas clássicas com o seu pai, Michel de Crayencour. Marguerite nunca frequentou a escola, tendo sempre estudado em casa com o pai ou com precetores que lhe proporcionaram uma educação esmerada. O pai, Michel, influenciou-lhe o gosto pela literatura francesa e pela literatura russa, tendo ambos encetado inúmeras viagens pela Europa e pelo Médio e Extremo Oriente durante a juventude da autora.
Aos 16 anos escreveu o seu primeiro livro, Le jardin des chimères (O Jardim das Quimeras), que foi publicado em 1921 numa edição paga pelo próprio pai, sob o pseudónimo "Marg Yourcenar". O apelido "Yourcenar", anagrama de Crayencour, o seu nome de família, foi criado por Marguerite e Michel.
Antes de partir para os Estados Unidos publicou Nouvelles orientales (Contos Orientais) do qual fazia parte o conto "A Fuga de Wang-fô". Depois de 10 anos a viver nos Estados Unidos, Marguerite pediu a nacionalidade norte-americana. Frequentou a Universidade de Yale e ensinou literatura francesa no Sarah Lawrence College, em Nova Iorque.
Em 1951 publicou Mémoires d'Hadrien (Memórias de Adriano), fruto de quinze anos de trabalho, a sua obra maior que a tornou internacionalmente conhecida. Este sucesso seria confirmado com L'oeuvre au Noir (A Obra ao Negro), 1968, uma biografia imaginária de um herói do século XVI atraído pelo hermetismo e a ciência. Publicou ainda poemas, ensaios e memórias, manifestando uma atração pela Grécia e pelo misticismo oriental patente em trabalhos como Mishima ou la vision du vide (1981, Mishima ou a Visão do Vazio) e Comme l'eau qui coule (1982, Como a Água que Corre).
Marguerite Yourcenar foi a primeira mulher convidada para a Academia Francesa de Letras, em 1980, tendo ocupado o lugar em janeiro de 1981. A autora faleceu a 17 de dezembro de 1987, nos Estados Unidos, deixando uma marca profunda na literatura de expressão francesa. (daqui)


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