terça-feira, 6 de novembro de 2012

"Estão podres as palavras" - Poema de Jorge de Sena


Yves Tanguy, Divisibilidade Indefinida, 1942



Estão podres as palavras


Estão podres as palavras — de passarem
por sórdidas mentiras de canalhas
que as usam ao revés como o caráter deles.
E podres de sonâmbulos os povos
ante a maldade à solta de que vivem
a paz quotidiana da injustiça.
Usá-las puras — como serão puras,
se caem no silêncio em que os mais puros
não sabem já onde a limpeza acaba
e a corrupção começa? Como serão puras
se logo a infâmia as cobre de seu cuspo?
Estão podres: e com elas apodrece o mundo
e se dissolve em lama a criação do homem
que só persiste em todos livremente
onde as palavras fiquem como torres
erguidas sexo de homens entre o céu e a terra.


Jorge de Sena

Poema incluído na antologia Poesia-III, Moraes Editores, Lisboa. O poema "Estão podres as palavras" foi publicado pela primeira vez no livro "Conheço o sal... e outros poemas" em 1974.
Jorge de Sena, (1919-1978) ficcionista, poeta, dramaturgo, crítico e ensaísta português, nasceu em Lisboa e faleceu em Santa Clara, nos EUA.)



Vida e Obra de Yves Tanguy
Yves Tanguy - Photo by Man Ray 
 

Yves Tanguy (1900 - 1955), pintor francês, nascido em Paris, adotou a nacionalidade americana em 1948. Durante o serviço militar conheceu Jacques Prévert. Autodidata, no regresso a Paris, em 1922, depois de ver pinturas de Chirico, começou a pintar. Conheceu André Breton em 1925 e participou em ações organizadas pelos Surrealistas. Apresentou a sua primeira exposição individual em 1927, na Galerie Surréaliste. Em 1928, expõe - juntamente com Ernst, Chirico, Masson e Miró - na "Exposition Surréaliste"
A sua pintura é caracterizada por formas abstratas biomórficas que flutuam numa espécie de deserto ou de espaço subaquático. 


Yves Tanguy
 

Tanguy foi para os EU em Novembro de 1939, e no ano seguinte casou com a pintora Americana Kay Sage. A partir de 1942 viveu em Woodbury, Connecticut, onde se tornou amigo de Calder e de Cornell. Participou em dois grandes acontecimentos Surrealistas em Nova Iorque, em 1942, organizados por Duchamp e Breton. Também expôs por diversas vezes na Galeria de Peggy Guggenheim. Continuou a desenvolver o mesmo estilo, usando cores mais intensas e formas arquitetónicas que dominavam as telas. Morreu em Woodbury.


Yves Tanguy, The Ribbon of Extremes, 1932


No quadro de Ives Tanguy "The Ribbon of Extremes", de 1932, um misterioso deserto noturno, ou paisagem lunar, estranhas formas semelhantes a órgãos formam uma fila. Embora sugiram animais ou plantas, não se podem associar a algo real. O esquema de cor é particularmente belo, com uma subtil gradação de tons de azul. O poeta e crítico André Breton escreveu sobre a obra de Tanguy: «Os fluxos da maré, revelando uma costa infinita onde até agora formas compostas desconhecidas se arrastam... não têm um equivalente imediato na natureza e tem que dizer-se que estas não suscitaram por enquanto qualquer interpretação válida». O ambiente irreal deste quadro associa-o ao Surrealismo e, tal como os outros surrealistas, Tanguy interessava-se muito pelas ideias do psicanalista Sigmund Freud. Acreditava que um quadro podia projetar a atividade mental subconsciente. Tanguy passou dois anos na marinha mercante antes de começar a pintar em 1923, após de sofrer a influência da obra de De Chirico. Yves Tanguy nasceu em Paris em 1900 e morreu nos Estados Unidos em 1955.


Yves Tanguy,  Reply to Red


Yves Tanguy, Dia de lentidão


Yves Tanguy, ‘A Little Later’, 1940. Private Collection


Yves Tanguy, The Asbent Lady, 1942


Yves Tanguy, The Mirage of Time (Mirage le temps), 1954. 


Yves Tanguy, Mama, Papais Wounded!


Yves Tanguy, Promontory Palace


Yves Tanguy, The Hand in the Clouds, 1927


Yves Tanguy, Storm (Black Landscape), 1926


Yves Tanguy, Blue Bed, 1929


Yves Tanguy, Multiplication of the Arcs


"A vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante."


(Caio Fernando Abreu)

Caio Fernando Loureiro de Abreu  (Santiago, 12 de setembro de 1948 — Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1996) foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro, reconhecido como um dos expoentes de sua geração. Ainda jovem foi morar em Porto Alegre, onde cursou Letras e Arte Dramática na UFRGS, mas abandonou tudo para ser jornalista. Trabalhou nas revistas Nova, Manchete, Veja e Pop, foi editor da revista Leia Livros e colaborou em diversos jornais: Correio do Povo, Zero Hora, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. (...) Seu estilo é económico e bem pessoal, fala de sexo, medo, morte e, principalmente, de angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um "fotógrafo da fragmentação contemporânea".
Em 1968, perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), Caio refugiou-se no sítio de uma amiga, a escritora Hilda Hilst, em Campinas, São Paulo. No início da década de 1970, ele se exilou por um ano na Europa, morando, respetivamente, na Espanha, na Suécia, nos Países Baixos, na Inglaterra e na França.
Em 1974, Caio Fernando Abreu retornou a Porto Alegre. Chegou a ser visto na Rua da Praia usando brincos nas duas orelhas e uma bata de veludo, com o cabelo pintado de vermelho. Em 1983, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1985, para São Paulo. A convite da Casa dos Escritores Estrangeiros, ele voltou à França em 1994, regressando ao Brasil no mesmo ano, ao descobrir-se portador do vírus HIV.
Em 1995, Caio Fernando Abreu se tornou patrono da 41.° Feira do Livro de Porto Alegre.
Um ano depois, Caio Fernando Abreu voltou a viver novamente com seus pais, tempo durante o qual se dedicaria à jardinagem, cuidando de roseiras. Faleceu em 25 de fevereiro de 1996, no Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre, no mesmo dia em que Mário de Andrade.  


Yves Tanguy, El tiempo amueblado, 1939

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