quarta-feira, 12 de abril de 2017

"Tateio" - Poema de Hilda Hilst


Marc Chagall, Blue Lovers, 1914



Tateio


Tateio. A fronte. O braço. O ombro. 
O fundo sortilégio da omoplata. 
Matéria-menina a tua fronte e eu 
Madurez, ausência nos teus claros 
Guardados. 

Ai, ai de mim. Enquanto caminhas 
Em lúcida altivez, eu já sou o passado. 
Esta fronte que é minha, prodigiosa 
De núpcias e caminho 
É tão diversa da tua fronte descuidada. 

Tateio. E a um só tempo vivo 
E vou morrendo. Entre terra e água 
Meu existir anfíbio. Passeia 
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta: 
Noturno girassol. Rama secreta. 


in 'Preludios-Intensos para os Desmemoriados do Amor' 


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