quarta-feira, 8 de abril de 2020

"Mãe" - Poema de Miguel Torga


Thomas Eakins (1844–1916), Mother (Anne Williams Gandy), 1903



Mãe


Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim.


Miguel Torga, in 'Diário IV'


Thomas Eakins, Mrs. Edith Mahon, 1904
(To My Friend Edith Mahon / Thomas Eakins)


"Amamos as nossas mães quase sem o saber e só nos damos conta da profundidade das raízes desse amor no momento da derradeira separação."




"A mulher pensa como ama, o homem ama como pensa."

"La donna pensa come ama, l' uomo ama come pensa."
 - Archivio per l'antropologia e l'etnologia, 1871

(Paolo Mantegazza)

Paolo Mantegazza (Monza, 31 de outubro de 1831 — San Terenzo, 28 de agosto de 1910) foi um neurologista, fisiologista e antropólogo italiano, notável por ter isolado a cocaína da coca, que utilizou em experimentos, investigando seus efeitos anestésicos em humanos. Também é conhecido como escritor de ficção ("O ano 3000: sonho", ed. Port.: Lisboa, Santos e Vieira, 1914). (daqui)


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