Hermann Hesse, romancista e poeta alemão, nasceu em 1877, na pequena cidade de Calw, na orla da
e no estado de Wüttenberg, faleceu a 9 de agosto de 1962, durante o sono, vítima de uma hemorragia cerebral.
Filho de Johannes Hesse, cidadão russo nascido em Weissenstein, na Estónia e de Marie Gundert, nascida em Talatscheri, na Índia, e ela própria filha de um missionário Pietista perito em Indologia, Hermann Gundert, também editor religioso.
Como
os pais depositavam esperanças no facto de Hermann Hesse poder vir a
seguir a tradição familiar em teologia, já que eles mesmos haviam
servido como missionários na Índia,
enviaram-no para o seminário protestante de Maulbronn, em 1891, mas
acabou por ser expulso. Passando a uma escola secular, o jovem Hermann
tornou a revelar inadaptação, pelo que abandonou os seus estudos.
Hermann
Hesse começou depois a trabalhar, primeiro como aprendiz de relojoeiro,
como empregado de balcão numa livraria, como mecânico, e depois como
livreiro em Tübingen, onde se teria juntado a uma tertúlia literária,
"Le Petit Cénacle", que teria, não só grandemente fomentado a voracidade
de leitura em Hesse, como também determinado a sua vocação para a
escrita. Assim, em 1899, Hermann Hesse publicou os seus primeiros
trabalhos,
Romantischer Lieder e
Eine Stunde Hinter Mitternacht, volumes de poesia de juventude.
Depois da aparição de
Peter Camenzind, em 1904, Hesse tornou-se escritor a tempo inteiro. Na obra, refletindo o ideal de
Jean-Jacques Rousseau do regresso à Natureza, o protagonista resolve abandonar a grande cidade para viver como
São Francisco de Assis. O livro obteve grande aceitação por parte do público.
Em 1911, e durante quatro meses, Hermann Hesse visitou a Índia,
que o teria desiludido mas, em contrapartida, constituído uma motivação
no estudo das religiões orientais. No ano seguinte, o escritor e a sua
família assentaram arraiais na Suíça.
Nesse período, não só a sua esposa começou a dar sinais de
instabilidade mental, como um dos seus filhos adoeceu gravemente. No
romance
Rosshalde (1914), o autor explora a questão do casamento
ser ou não conveniente para os artistas, fazendo, no fundo, uma
introspeção dos seus problemas pessoais.
Durante a
Primeira Guerra Mundial, Hesse demonstrou ser desfavorável ao militarismo e ao nacionalismo que se faziam sentir na altura e, da sua residência na Suíça,
procurou defender os interesses e a melhoria das condições dos
prisioneiros de guerra, o que lhe valeu ser considerado pelos seus
compatriotas como traidor.
Finda a guerra, Hesse publicou o seu primeiro grande romance de sucesso,
Demian
(1919). A obra, de carácter faustiano, refletia o crescente interesse
do escritor pela psicanálise de Carl Jung, e foi louvada por
Thomas Mann. Assinada nas primeiras edições com o nome do seu narrador, Emil Sinclair, Hesse acabaria por confessar a sua autoria.
Deixando a sua família em 1919, Hermann Hesse mudou-se para o Sul da Suíça, para Montagnola, onde se dedicou à escrita de
Siddharta
(1922), romance largamente influenciado pelas culturas hindu e chinesa e
que, recriando a fase inicial da vida de Buda, nos conta a vida de um
filho de um Bramane que se revolta contra os ensinamentos e tradições do
seu pai, até poder eventualmente encontrar a iluminação espiritual. A
obra, traduzida para a língua inglesa nos anos 50, marcou
definitivamente a geração Beat norte-americana.
1919 foi também o
ano em que Hesse travou conhecimento com Ruth Wenger, filha da
escritora suíça Lisa Wenger e bastante mais nova que o autor. O escritor
renunciou à cidadania alemã, em 1923, optando pela suíça.
Divorciando-se da sua primeira esposa, Maria Bernoulli, casou com Ruth
Wenger em 1924, tendo o casamento durado apenas alguns meses. Dessa
experiência teria resultado uma das suas obras mais importantes,
Der Steppenwolf
(1927). No romance, o protagonista Harry Haller confronta a sua crise
de meia-idade com a escolha entre a vida da ação ou da contemplação,
numa dualidade que acaba por caracterizar toda a estrutura da obra.
Em
1931 voltou a casar, desta feita com Ninon Doldin, de origem judaica.
Com apenas quatorze anos, havia enviado, em 1909, uma carta a Hermann
Hesse, e desde então a correspondência entre ambos não mais cessou.
Conhecendo-se acidentalmente em 1926, foram viver juntos para a Casa
Bodmer, estando Ninon separada do pintor B. F. Doldin, e a existência de
Hesse ter-se-à tornado mais serena.
Durante o regime
Nacional-Socialista, os livros de Hermann Hesse continuaram a ser
publicados, tendo sido protegidos por uma circular secreta de Joseph
Goebbels em 1937. Quando escreveu para o jornal pró-regime
Frankfürter Zeitung, os refugiados judeus em França
acusaram-no de apoiar os Nazis. Embora Hesse nunca se tivesse
abertamente oposto ao regime Nacional-Socialista, procurou auxiliar os
refugiados políticos. Em 1943 foi finalmente publicada a obra
Das Glasperlernspiel,
na qual Hesse tinha começado a trabalhar em 1931. Tendo enviado o
manuscrito, em 1942, para Berlin, foi-lhe recusada a edição e o autor
foi colocado na Lista Negra Nacional-Socialista. Não obstante, a obra
valer-lhe-ia o prémio Nobel em 1946.
Após a atribuição do famoso
galardão, Hesse não publicou mais nenhuma obra de calibre. Entre 1945 e
1962 escreveria cerca de meia centena de poemas e trinta e dois artigos
para os jornais suíços.
(Daqui)