domingo, 12 de dezembro de 2021

"Retábulo" e "Natal" - Poemas de Miguel Torga


 
 

Retábulo
 
(1954)

Estranho Menino Deus é o dum poeta!
O que nasce e renasce há muitos anos
Na minha noite de Natal, fingida,
Mal corresponde à imagem conhecida
Das sucursais do berço de Belém.
É uma criança tímida que vem
Visitar os meus sonhos, e, ao de leve,
Com mãos discretas, tece
Um poema de neve
Onde depois se deita e adormece.


Miguel Torga
(Poema extraído de "Diário VII", 1954)

 
Lorenzo Lotto, Adoration of the Shepherds, c. 1534.
  

Natal


(1948)

Devia ser neve humana
A que caía no mundo
Nessa noite de amargura
Que se foi fazendo doce…
Um frio que nos pedia
Calor irmão, nem que fosse
De bichos de estrebaria.

 
(Poema extraído de "Diário IV", 1948)
 

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