sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

"Natal" - 3 Poemas de Miguel Torga

 


Hans Zatzka (Austrian, 1859-1945), Mary and Child with Angels 

 


Natal

(1982)

Solstício de inverno.
Aqui estou novamente a festejá-lo
À fogueira dos meus antepassados
Das cavernas.
Neva-me na lembrança,
E sonho a primavera
Florida nos sentidos.
Consciente da fera
Que nesses tempos idos
Também era,
Imagino um segundo nascimento
Sobrenatural
Da minha humanidade.
Na humildade
Dum presépio ideal,
Emblematizo essa virtualidade.
E chamo-lhe Natal.

Miguel Torga
(Poema extraído de "Diário VII", 1982)

 


Pompeo Batoni (Italian painter, 1708-1787), The Holy Family with St Elizabeth 
and the Infant St John the Baptist, 1777, Hermitage Museum, St Petersburg
 

 Natal

(1987)

Nasce mais uma vez,
Menino Deus!
Não faltes, que me faltas
Neste inverno gelado.
Nasce nu e sagrado
No meu poema,
Se não tens um presépio
Mais agasalhado.

Nasce e fica comigo
Secretamente,
Até que eu, infiel, te denuncie
Aos Herodes do mundo.
Até que eu, incapaz
De me calar,
Devasse os versos e destrua a paz
Que agora sinto, só de te sonhar.


Miguel Torga
(Poema extraído de "Diário XIV", 1987)

Natal

(1988)

Menino Jesus feliz
Que não cresceste
Nestes oitenta anos!
Que não tiveste
Os desenganos
Que eu tive
De ser homem,
E continuas criança
Nos meus versos
De saudade
Do presépio
Em que também nasci,
E onde me vejo sempre igual a ti.


Miguel Torga
(Poema extraído de "Diário XV", 1988) 
 
 
The Virgin and Child, known as the Durán Madonna, 1435-38, 
Museo del Prado, Madrid
 
 


Rogier Van Der Weyden, pintor flamengo, nasceu por volta do ano de 1400, em Tournai, tendo falecido em Bruxelas sessenta e quatro anos depois. 
A sua obra foi conhecida nos grandes centros e mesmo célebre enquanto ainda vivia, e representou um avanço significativo para a História da Arte. De facto foi considerado, a par de Robert Campin e Jan van Eyck, um dos artistas fundamentais do Quattrocento na Flandres. 
Não existem dados que permitam a reconstituição de uma biografia incontestável, e mesmo as obras que se dizem da sua autoria foram-lhe atribuídas com base num estilo muito característico que todas elas possuem em comum. 
Crê-se que terá estudado na oficina de Rogelet de la Pâture (apesar de alguns estudiosos o identificarem com este mesmo pintor), entre 1427 e 1432, e que a partir de 1436 se estabeleceu em Bruxelas como pintor oficial da cidade. Ao serviço de Bruxelas terá pintado duas cenas de grande dimensão alusivas à Justiça, por volta do ano de 1439. 
No ano seguinte poderá ter ido a Roma, na sequência do Jubileu que se celebrava, visitando Milão e Florença e tendo-se estabelecido em Ferrara, onde trabalhou para Leonel d'Este
Pensa-se igualmente que terá dirigido uma oficina de grandes dimensões e importância. As inovações artísticas de que foi portador foram sobretudo no tratamento iconográfico e da imagem com grande espiritualidade, tendente para o dramatismo. 
Os temas das suas pinturas são em grande parte religiosos, como a Deposição (c. 1435) e São Lucas a retratar a Virgem, obras que a par do Tríptico Miraflores pertencem ao início da sua carreira e, como tal, mostrando clara influência de Robert Campin (provavelmente seu mestre) na característica escultórica das figuras. 
Pensa-se que o Juízo Universal ainda não patenteia os conhecimentos que poderia ter adquirido em Itália e que mais tarde se mostrariam em obras suas, vendo-se nesta obra, pelo contrário, a tendência ainda medieval preconizada por Jan van Eyck
Para a família Médicis pintou um Enterro e Madona com o Menino e Quatro Santos e na década de 1450 pintou obras como o Tríptico Bladelin, o Políptico dos Sete Sacramentos, um tríptico com a Crucifixão e a Anunciação, e já no final da sua vida, além de retratos com tratamento de luz bastante elaborado, o Tríptico de São João e o de Santa Colomba. (Daqui)
 

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