quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

"Cantares" - Poema de Antonio Machado



Carl Spitzweg (1808–1885), The Painter in a Forest Clearing,  
Lying under an Umbrella, c. 1850



Cantares

 
Tudo passa e tudo fica,
porém o nosso é passar,
passar fazendo caminhos,
caminhos sobre o mar.

Nunca persegui a glória,
nem deixar na memória
dos homens minha canção.
Eu amo os mundos subtis,
leves e gentis,
como bolhas de sabão.

Gosto de vê-los pintar-se de sol escarlate
Voar debaixo do céu azul,
Tremer subitamente e quebrar-se...

Nunca persegui a glória.

Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.

Ao andar faz-se caminho,
e ao voltar a vista atrás,
vê-se a senda que nunca,
se voltará a pisar.

Caminhante não há caminho
simplesmente marcas no mar...

Faz algum tempo neste lugar
onde hoje os bosques se vestem de espinhos
ouviu-se a voz de um poeta gritar
"Caminhante não há caminho,
faz-se caminho ao andar"...

Golpe a golpe, verso a verso...

Morreu o poeta longe do lar
cobre-lhe o pó de um país vizinho.
Ao afastar-se vieram-lhe chorar
"Caminhante não há caminho,
faz-se caminho ao andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino,
quando de nada nos serve rezar.
"Caminhante não há caminho,
faz-se caminho ao andar..."

Golpe a golpe, verso a verso."

  "Proverbios y cantares I". In: Poesías completas
Madrid: Espasa-Calpe, 1983.
Tradução de Plácido de Oliveira
 
 
  
Carl Spitzweg (1808–1885), Suspicious smoke, c. 1860  
 

 Cantares

Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse…

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar…

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”

Golpe a golpe, verso a verso…

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”

Golpe a golpe, verso a verso…

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”

Golpe a golpe, verso a verso.  

 
  "Proverbios y cantares I". In: Poesías completas
Madrid: Espasa-Calpe, 1983. 
 
 

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