segunda-feira, 16 de outubro de 2023

"O poder das palavras em tempo de peste" - Poema de Eugénio Lisboa


Juan Manuel Blanes (Pintor uruguaio, 1830-1901), Un episodio de la fiebre amarilla
 en Buenos Aires, 1871, óleo sobre tela,  Museo Nacional de Artes Visuales.



O poder das palavras em tempo de peste


 
As palavras o que podem? Se pesam
demais e vão além do que é preciso,
ofendem a subtileza e lesam
o valor do que deve ser conciso.

Se ficam aquém do que é necessário
e dizem menos do que foi sentido,
se o pensamento dito sai precário,
todo o esforço de dizer foi perdido.

Face a uma grande calamidade,
dilúvio, peste, fome ou guerra,
as palavras perdem vitalidade
e tremem do mal que assola a terra.

As palavras podem só o que podem
e sugerem, das nossas emoções,
uma leve sombra – e mal acodem
ao tumulto das nossas aflições.

Porém, as palavras são o que temos
e só com elas ao nosso dispor
iremos fazer o que podemos:
dar ao nosso mundo alguma cor.


Eugénio Lisboa, in “Poemas em Tempo de Peste”
 

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