quinta-feira, 5 de setembro de 2024

"Mar de Setembro" - Poema de Eugénio de Andrade


Édouard Bisson (French painter, 1856–1939), Sitting by the sea, 1882.
 
 

Mar de Setembro


Tudo era claro:
céu, lábios, areias.
O mar estava perto,
fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves – só
ritmo e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto.
Puríssimo. Doirado.


Eugénio de Andrade,
In «Coração do Dia / Mar de Setembro»,

 
Coração do Dia - Mar de Setembro de Eugénio de Andrade
Edição/reimpressão: 02-2013. Editor: Assírio & Alvim.
Páginas: 80
 

SINOPSE 
 
O terceiro volume da coleção Obras de Eugénio de Andrade reúne os livros «Coração do Dia», publicado pela primeira vez em 1958, e «Mar de Setembro», de 1961. Esta edição respeita escrupulosamente a fixação do texto feita ainda em vida, pelo poeta, e conta com um prefácio do Professor Fernando J.B. Martinho, que nos diz, dos dois conjuntos de poemas que compõem este livro: «A limpidez, a luminosa simplicidade que nos oferta, em ambos estes conjuntos, há que aceitá-la como uma graça de que só a grande poesia é capaz.» 


Despertar

É um pássaro, é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave, água no mar. 
(daqui)
 

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