sábado, 21 de setembro de 2024

"Obsessão" - Poema de Francisco Bugalho

 

 
Mota Urgeiro (Pintor português, n. 1946), Ribeira de Odivelas - Alentejo.



Obsessão

 
Dentro de mim canta, intenso,
Um cantar que não é meu:
Cantar que ficou suspenso,
Cantar que já se perdeu.

Onde teria eu ouvido
Esta voz cantar assim?
Já lhe perdi o sentido:
Cantar que passa perdido,
Que não é meu estando em mim.

Depois, sonâmbulo, sonho:
Um sonho lento, tristonho,
De nuvens a esfiapar...
E, novamente, no sonho
Passa de novo o cantar...

Sobre um lago, onde em sossego
As águas olham o céu,
Roça a asa de um morcego...
E ao longe o cantar morreu.

Onde teria eu ouvido
Esta voz cantar assim?
Já lhe perdi o sentido...
E este cenário partido
Volta a voltar, repetido,
E o cantar recanta em mim. 

 in "Margens"
 
 
Mota Urgeiro (Pintor português, n. 1946), Amanhecer no Alentejo.
 

"Um escritor é um homem como os outros: sonha. E o meu sonho foi o de poder dizer deste livro, quando terminasse: 'Isto é um livro sobre o Alentejo'."


Citado em "José Saramago: il bagaglio dello scrittore‎" - Página 41, de Giulia Lanciani.
Publicado por Bulzoni, 1996 - 256 páginas.
 

Sem comentários: