quinta-feira, 31 de maio de 2012

"Que Humanidade é esta?" - Texto de José Saramago


Robert Zünd (1826 –1909), Near the Schlachtkapelle in Sempach, 1867
 
 

Que Humanidade é esta? 


"Se o homem não for capaz de organizar a economia mundial de forma a satisfazer as necessidades de uma humanidade que está a morrer de fome e de tudo, que humanidade é esta?
Nós, que enchemos a boca com a palavra humanidade, acho que ainda não chegámos a isso, não somos seres humanos.
Talvez cheguemos um dia a sê-lo, mas não somos, falta-nos mesmo muito. Temos aí o espetáculo do mundo e é uma coisa arrepiante.
Vivemos ao lado de tudo o que é negativo como se não tivesse qualquer importância, a banalização do horror, a banalização da violência, da morte, sobretudo se for a morte dos outros, claro.
Tanto nos faz que esteja a morrer gente em Sarajevo, e também não devemos falar desta cidade, porque o mundo é um imenso Sarajevo.
E enquanto a consciência das pessoas não despertar isto continuará igual. Porque muito do que se faz, faz-se para nos manter a todos na abulia, na carência de vontade, para diminuir a nossa capacidade de intervenção cívica." 
 
José Saramago, in 'Canarias7 (1994)'
 
 
 Obras de Robert Zünd
Robert Zünd, Harvest, 1860

  • "O milagre não é dar vida ao corpo extinto, ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo… nem mudar água pura em vinho tinto… milagre é acreditarem nisso tudo!" - Mário Quintana
 

 
Robert Zünd, Beech Wood, 1887

  • ''A verdadeira viagem não está em sair à procura de novas paisagens, mas em possuir novos olhos.'' - Marcel Proust
 

Robert Zünd, Oak Forest, 1882

  • "Temos de conhecer as pessoas e as coisas humanas para as amar. Temos de amar Deus e as coisas divinas para as conhecer." - Blaise Pascal


Robert Zünd, Ox Team in Valais, 1900

  • "Viver é a coisa menos frequente do mundo, a maior parte das pessoas existe e isso é tudo." - Oscar Wilde


Robert Zünd, The Harvest

  • "Lembrar é fácil para quem tem memória. Esquecer é difícil para quem tem coração." - William Shakespeare


Robert Zünd

  • "O que eu ouço, esqueço. O que eu vejo, lembro. O que eu faço, aprendo." - Confúcio


Joe Cocker - With a little help from my friends


quarta-feira, 30 de maio de 2012

"Cinco Horas" - Poema de Mário de Sá-Carneiro


Fachada principal do Café Majestic na cidade do Porto, Portugal


Cinco Horas

 
Minha mesa no Café
Quero-lhe tanto ... A garrida
Toda de pedra brunida
Que linda e fresca é.

Um sifão verde no meio
E, ao seu lado, a fosforeira
Diante ao meu copo cheio
Duma bebida ligeira.

(Eu bani sempre os licores
Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais).

Sobre ela posso escrever 
Os meus versos prateados,
Com estranheza dos criados
Que me olham sem perceber ...
Sobre ela descanso os braços
Numa atitude alheada
Buscando pela ar os traços
Da minha vida passada.

Ou acendendo cigarros,
- Pois há um ano que fumo –
Imaginário presumo
Os meus enredos bizarros.

(E se acaso em minha frente
Uma linda mulher brilha,
O fumo da cigarrilha
Vai beija-la, claramente).

Um novo freguês que entra
É novo ator no tablado,
Que o meu olhar fatigado
Nele outro enredo concentra.

É o carmim daquela boca
Que ao fundo descubro, triste,
Na minha ideia persiste
E nunca se desloca

Cinge tais futilidades
A minha recordação,
A destes vislumbres são
As minhas maiores saudades ...

(Que história de oiro tão bela
Na minha vida abortou:
Eu fui herói de novela
Que autor nenhum empregou ...)

Nos cafés espero a vida
Que nunca vem ter comigo
- Não me faz nenhum castigo
Que o tempo passa em corrida. 

Passar tempo é o meu fito,
Ideal que só me resta:
P’ra mim não há melhor festa,
Nem mais nada acho bonito.

- Cafés da minha preguiça,
Sois hoje – que galardão! –
Todo o meu campo de ação
E toda minha cobiça.


Mário de Sá-Carneiro 
 
 
Vida e obra de Nicolas Poussin
 
Nicolas Poussin, O rapto das sabinas, 1637-38


"As cores na pintura são como chamarizes que seduzem os olhos, como a beleza dos versos na poesia." 
 
(Nicolas Poussin)


Nicolas Poussin, Os pastores de Arcadia (Et in Arcadia ego)


Nicolas Poussin (Les Andelys, Normandia, França, 15 de Junho de 1594 - Roma, 19 de Novembro de 1665) foi um pintor francês, mas por seu espírito e sensibilidade, romano por adoção. É um dos maiores representantes do classicismo do século XVII. Trabalhou quase que exclusivamente em Roma. 
Um dos trabalhos mais famosos de Poussin é Os Pastores de Arcádia, uma pintura que retrata um túmulo com uma lápide enorme, onde se lê Et in Arcadia ego. O túmulo da pintura, anos após a morte de Poussin, foi encontrado nas redondezas de Rennes-le-Château, um vilarejo no sudeste da França, que fora habitado pelos visigodos e merovíngios.
A admiração de Cézanne pela arte de Poussin é bem conhecida. Lembrando suas palavras a Gasquet - "Imagine Poussin completamente refeito: é isso o que quero dizer com 'clássico'" - Zvi Lachman chama a atenção para a profunda dívida de Cézanne para com Poussin, particularmente na utilização do espaço pictórico por este último, em O rapto das sabinas.
Poussin é personagem do conto de Honoré de Balzac, "Le chef d'oeuvre inconnu" ("A obra prima desconhecida"), que também inspirou o filme La Belle noiseuse de Jacques Rivette, vencedor do Festival de Cannes, 1999.


Café Majestic
Fachada principal do Café Majestic

Pormenor da fachada do Café Majestic

Pormenor da fachada do Café Majestic

Café Majestic

Café Majestic

Pormenor do Café Majestic

Pormenor do Café Majestic


O Majestic é um café histórico, localizado na Rua de Santa Catarina, na cidade do Porto, em Portugal
A sua relevância advém tanto da ambiência cultural que o envolve, nomeadamente a tradição do café tertúlia, onde se encontravam várias personalidades da vida cultural e artística da cidade, como também da sua arquitectura de identidade Arte Nova.
Inaugurado a 17 de Dezembro de 1921, com o nome de "Elite", o café, situado no n.º 112 da Rua de Santa Catarina, esteve desde logo associado a uma certa frequência das pessoas distintas da época. Um dos que estiveram presente na inauguração foi o piloto aviador Gago Coutinho, acabado de chegar de uma viagem à ilha da Madeira, e que ficou encantado com o esplendor da decoração arte nova.
No ano seguinte o nome mudaria de Elite para Majestic, sugerindo o chic parisiense, mais de encontro à clientela que pretendia atrair, e tão apreciado na época.
Frequentaram o café nomes como Teixeira de Pascoaes, José Régio, António Nobre, o filósofo Leonardo Coimbra. Mais tarde tornou-se lugar assíduo para os estudantes e professores da Escola de Belas Artes do Porto.
Uma outra das conhecidas tertúlias que o animou era constituída pelo escultor José Rodrigues e pelos pintores Armando Alves, Ângelo de Sousa e Jorge Pinheiro. Este grupo adotaria, devido à classificação final do curso, o irónico nome de "Os quatro vintes", e manter-se-ia unido numa série de exposições no Porto, em Lisboa e em Paris no período 1968-1971.
Hoje em dia continua a ser animado com recitais de poesia, concertos de piano, exposições de pintura, lançamentos de livros, realização de algumas cenas para filmes nacionais ou estrangeiros.

Estilo arquitetónico

O Café Majestic de traça ideada pelo arquitecto João Queirós, inspirada na obra do mestre Marques da Silva, permanece ainda hoje como um dos mais belos e representativos exemplares de Arte Nova na cidade do Porto. O edifício, fundeado em 1916 no ângulo formado pelas ruas de Santa Catarina e Passos Manuel, previa, na memória descritiva da sua reconstrução, a existência de "estabelecimentos virados para a rua pedonal."
A imponente fachada em mármore, adornada com aspectos vegetalistas de formas sinuosas, reflecte o bom estilo decorativista da altura. Um trio de elegantes colunas marca a frontaria, limitada por uma secção retangular, rasgada em vidro. No topo um frontão coroa a composição com as iniciais do Majestic. Ladeiam-no duas representações de crianças que, divertidas, convidam o transeunte a entrar.
Dentro do estabelecimento, de planta rectangular, reina a linguagem Arte Nova. A simetria curvilínea das molduras em madeira e os pormenores decorativos cativam a observação. Grandes espelhos riscados pela idade, intercalados por candeeiros em metal trabalhado, delimitam as paredes num inteligente jogo ótico de amplitude, que lhe dá uma dimensão maior que a real.
Esculturas em estuque, representando rostos humanos, figuras desnudas e florões, confirmam o gosto ondulante e sensual, enquanto que duas linhas de bancos em couro gravado, substituindo os originais em veludo vermelho, criam, em termos de perspetiva, uma sensação de profundidade e elegante aconchego.
O recorte sinuoso dos caixilhos da espelharia, a luminosidade dos candeeiros, os detalhes em mármore e os bustos sorridentes que se estendem das paredes ao tecto, conferem-lhe ambiência dourada e confortável, incitando ao repouso e à conversa amena. O Café Majestic emana uma atmosfera de luxo, requinte e bem-estar.
O pátio interior, construído em 1925, é um recanto de contornos delicados, com escada e balaustrada de pequenas dimensões, arquitectado como se de um jardim de Inverno se tratasse. Sob a direcção do mestre Pedro Mendes da Silva, este espaço simboliza uma nova era do Café Majestic. A construção do bar e da ligação ao café por meio de uma escadaria, permitiu abrir uma nova frente, a da rua Passos Manuel, "…onde será posto à venda vinho do Porto. Para isso, escolheu-se o estilo regional da nossa arquitectura, não só para a construção do bar, mas também para a vedação do muro."
A nova fachada foi subsequentemente idealizada e executada seguindo moldes diferentes dos adoptados para o interior. Se este é ao gosto internacional, o novo espaço, não o renegando, apresenta um estilo mais rústico, manifestando o que mais tarde Raul Lino designou por casa portuguesa.
Nesse mesmo ano o Majestic cumpre singularmente a função plural de satisfazer todos os desejos da clientela. Volta a chamar o arquitecto João Queirós, agora para abrir uma modesta mas graciosa janela no muro remodelado, virada para a rua Passos Manuel, onde passará a vender tabaco e rapé à população. Um ano depois, em 1926, o espaço é ampliado e cedido à exploração da firma Tinoco & Irmãos, construindo uma "pequena cabina (…) para servir de tabacaria."
Auspícios de novos tempos e hábitos surgiram em 1927, através da ampliação do bar com vista ao "serviço e fornecimento de cerveja para o terraço ali já existente".
O espaço, portanto, apresenta-se evolutivo. De uma formulação mais depurada e arquitectural à entrada, motivada pelas raízes Beaux Arts do arquiteto, ao nos aproximarmos do jardim passamos para um decorativismo colmatador das estruturas arquitetónicas, terminando no portal jónico de ligação ao exterior, com grande volutas transparentes e sensuais, tipicamente Art Nouveau, insinuando as esculturas femininas que vislumbramos no exterior. Esse, verdejante e luminoso, serve actualmente para a dinamização de concertos durante o Verão, pelo que se tornou no terceiro centro cultural do Majestic, a rivalizar com o piano de cauda no interior e com as inúmeras exposições de pintura a acontecer no piso inferior, outrora votado ao jogo de bilhar.
Sob a égide dos Barrias, o Café foi encerrado para execução de um projecto de remodelação. Em 1994, depois da substituição do pavimento interior, da reposição do mobiliário original e do desenho de um novo balcão, o Majestic foi reaberto, devolvendo-se-lhe finalmente uma merecida notoriedade.
A partir da década de 1960, a transformação do ritmo de vida provocou o declínio destes estabelecimentos e o Majestic não escapou a essa sorte até aos primeiros anos da década de oitenta.
Porém, a sua beleza original e o seu significado na cidade do Porto, valeram-lhe a classificação em 24 de Janeiro de 1983 de Imóvel de Interesse Público e "património cultural" da cidade, o que possibilitou que se iniciasse um processo de recuperação que, apesar de longo, permitiu a reabertura do café em Julho de 1994 com todo o seu antigo esplendor, convidando a reviver a fascinante Belle Époque.
Na cave foi criada uma galeria de arte destinada a pequenas conferências ou exposições.

Na biografia de J.K. Rowling escrita por Sean Smith, refere-se que a escritora passava muito tempo no Café Majestic a trabalhar no primeiro livro "Harry Potter e a Pedra Filosofal" (apesar da escritora ter saído do Porto em 1994 e o livro apenas ter sido publicado em 1997).
Nos últimos anos, entre muitas outras figuras, não deixaram de visitar e assinar o livro de honra os presidentes Mário Soares, Jorge Sampaio, Jacques Chirac e Cavaco Silva.
Uma das cerimónias da despedida de Macau, no final do período de administração portuguesa, teve lugar no Café Majestic com a presença do Embaixador da China em Portugal.

Bibliografia
Café Majestic. Porto: Ed. Quiosque.org, 2006.
Porto de Encontro n.º 34, edição especial 2001, Câmara Municipal do Porto


terça-feira, 29 de maio de 2012

"A ti regresso, mar" - Poema de José Saramago





A ti regresso, mar


A ti regresso, mar, ao gosto forte
Do sal que o vento traz à minha boca,
À tua claridade, a esta sorte
Que me foi dada de esquecer a morte
Sabendo embora como a vida é pouca.

A ti regresso, mar, corpo deitado,
Ao teu poder de paz e tempestade,
Ao teu clamor de deus acorrentado,
De terra feminina rodeado,
Prisioneiro da própria liberdade.

A ti regresso, mar, como quem sabe
Dessa tua lição tirar proveito.
E antes que esta vida se me acabe,
De toda a água que na terra cabe
Em vontade tornada, armado o peito.

 
José Saramago
 

José Saramago

 
José de Sousa Saramago (Golegã, Azinhaga, 16 de Novembro de 1922 — Tías, Lanzarote, 18 de Junho de 2010) foi um escritor, argumentista, teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português.

Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou. em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.

O seu livro Ensaio Sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.

Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.


José Saramago recebendo o Prémio Nobel da Literatura




Citações e pensamentos


"Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida." 

(Pablo Neruda)




"A pessoa certa é a que está ao seu lado nos momentos incertos."

(Pablo Neruda)
 



"O amor é a lei da vida, a razão única da existência." 
 
(Machado de Assis)
 



"O amor não conhece sua própria intensidade até à hora da separação."  
 
(Khalil Gibran)
 



A Viagem


"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: “Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre."

José Saramago
 


"Coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não ausência de medo." 
 
(Mark Twain)


Joe Cocker - A woman loves a man


segunda-feira, 28 de maio de 2012

"A Máquina Fotográfica" - Poema de José Carlos Ary dos Santos


Robert Capa, durante a cobertura da Guerra Civil Espanhola, em 1937.
 Foto: Gerda Taro
 

A Máquina Fotográfica 


É na câmara escura dos teus olhos
que se revela a água
água imagem
água nítida e fixa
água paisagem
boca nariz cabelos e cintura

terra sem nome
rosto sem figura
água móvel nos rios
parada nos retratos
água escorrida e pura
água viagem trânsito hiato.

Chego de longe. Venho em férias. Estou cansado.
Já suei o suor de oito séculos de mar
o tempo de onze meses de ordenado;
por isso, meu amor, viajo a nado
não por ser português mal empregado
mas por sofrer dos pés
e estar desidratado.

Chego. Mudo de fato. Calço a idade
que melhor quadra à minha solidão
e saio a procurar-te na cidade
contrastada violenta negativa
tu única sombra murmurada
única rua mal iluminada
única imagem desfocada e viva.

Moras aonde eu sei.
É na distância
onde chego de táxi.
Sou turista
com trinta e seis hipóteses no rolo;
venho ao teu miradouro ver a vista
trago a minha tristeza a tiracolo.
Enquadro-te regulo-te disparo-te
revelo-te retoco-te repito-te
compro um frasco de tédio e um aparo
nas tuas costas ponho uma estampilha
e escrevo aos meus amigos que estão longe
charmant pays
the sun is shining
love.


Emendo-te rasuro-te preencho-te
assino-te destino-te comando-te
és o lugar concreto onde procuro
a noite de passagem o abrigo seguro
a hora de acordar que se diz ao porteiro
o tempo que não segue o tempo em que não duro
senão um dia inteiro.

Invento-te desbravo-te desvendo-te
surges letra por letra, película sonora,
do sendo à vogal do tema à consoante
sem presença no espaço sem diferença na hora.
És a rota da Índia o sarcasmo do vento
a cãibra do gajeiro o erro do sextante
o acaso a maré o mapa a descoberta
dum novo continente itinerante.


José Carlos Ary dos Santos,
Obra Poética
Lisboa, Edições Avante, 1994


Robert Capa em ação no Dia D (Daqui)


Robert Capa, de seu nome verdadeiro Endre Ernő Friedmann (Budapeste, 22 de Outubro de 1913 — Thai-Binh, 25 de Maio de 1954), foi um fotógrafo húngaro.
 
 

Citações
 de
 Winston Churchill
Ler - Ilustração de Adrian Tomine

  • "É uma coisa boa para um homem com pouca instrução ler livros de citações. 'Citações Familiares de Bartlett' é um livro admirável, e eu estudei-o intensamente. As citações, quando gravadas na nossa memória, dão-nos bons pensamentos. Elas dão-nos vontade de ler os autores e conhecê-los melhor." - Winston Churchill, in 'Começos da Minha Vida' 
 

Ler - Ilustração de Franco Matticchio

  • "Não há mal nenhum em mudar de opinião. Desde que seja para melhor." - Winston Churchill
 

Ler - Ilustração de Franco Matticchio

  • "Todas as grandes coisas são simples. E muitas podem ser expressas numa só palavra: liberdade; justiça; honra; dever; piedade; esperança." - Winston Churchill


 
Ler - Ilustração de Jillian Tamaki

  • "Um pessimista vê uma dificuldade em cada oportunidade; um optimista vê uma oportunidade em cada dificuldade."  - Winston Churchill


Ler - Ilustração de Toni Demuro

  • "Sucesso não é o final, falhar não é fatal: é a coragem para continuar que conta." - Winston Churchill


Ler - Ilustração de Paul Blow 

  • "Vivemos com o que recebemos, mas marcamos a vida com o que damos." - Winston Churchill


Winston Churchill
(Primeiro ministro britânico, de 1940 a 1945 e de 1951 a 1955, 
 foi quem dirigiu a Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial.)


Winston Churchill nasceu no Palácio de Blenheim, em Woodstock, no Oxfordshire, em 30 de Novembro de 1874; morreu em Londres em 24 de Janeiro de 1965. Era filho de Lord Randolph Churchill e da sua mulher americana Jennie Jerome. 
Após ter acabado o curso na Academia Militar de Sandhurst e ter servido como oficial subalterno, de 1895 a 1899, no regimento de Hussardos n.º 4, foi correspondente de guerra em Cuba, na Índia e na África do Sul. 
Durante a guerra dos Boers, de quem foi prisioneiro, protagonizou uma fuga que o tornou mundialmente conhecido, e de que relatou as peripécias no seu livro De Londres a Ladysmith. 
Churchill entrou para a política como Conservador, tendo sido eleito deputado em 1900, mas em 1904 rompeu com o Partido devido à política social dos Conservadores. Aderiu ao Partido Liberal e em 1906, tendo sido eleito deputado, foi convidado para o Governo, ocupando primeiro o cargo de Sub-Secretário de Estado para as Colónias, mais tarde, em 1908, a pasta de Presidente da Junta de Comércio (Board of Trade). 
Após as eleições de 1910 foi transferido para o Ministério do Interior, e finalmente foi nomeado, em Outubro de 1911, Primeiro Lorde do Almirantado, onde impôs uma política de reforço e modernização da Marinha de Guerra britânica. Pediu a demissão em plena Primeira Guerra Mundial, devido ao falhanço da expedição britânica aos Dardanelos, na Turquia, de que tinha sido o principal promotor.
Alistou-se no exército, e comandou um batalhão do regimento «Royal Scots Fusiliers» na frente ocidental. Regressou ao Parlamento em 1916, regressando a funções governamentais no último ano de guerra, como ministro das munições. 
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, Churchill foi-se tornando cada vez mais conservador, continuando a participar activamente na política, como Ministro da Guerra (1919-1921) e Ministro das Colónias (1921-1922) em governos liberais. Em 1924 regressou ao Partido Conservador, sendo nomeado Ministro das Finanças (1924-1929) no governo conservador de Stanley Baldwin. Não participou em nenhum governo, de 1929 a 1939, mas continuou a ser eleito para o Parlamento, onde advertiu incessantemente do perigo que Hitler representava para a Paz. 
Em 1939 foi nomeado novamente Primeiro Lorde do Almirantado, e em 1940, no dia em que a Alemanha começou a ofensiva a Ocidente, invadindo a Holanda, a Bélgica, o Luxemburgo e a França, foi nomeado Primeiro Ministro. Fez com que o seu país resistisse às derrotas dessa Primavera de 1940, e ao desaparecimento de todos os seus aliados ocidentais, da Noruega à França, e dirigiu-o durante a Batalha de Inglaterra. Finalmente, aliado à União Soviética, desde o primeiro momento da invasão alemã, em Junho de 1941, e com o apoio e depois a participação activa dos Estados Unidos na guerra, acabou por vencer Hitler
Mesmo antes do fim da guerra, sofreu uma derrota espectacular nas eleições de 1945, sendo o seu governo substituído pelos trabalhistas de Atlee. Voltou ao poder em 1951, sendo primeiro-ministro até 1955, ano em que pediu a demissão, devido a problemas de saúde. 
Foi nomeado Prémio Nobel da Literatura em 1953, pelas sua obra mas sobretudo devido aos 6 volumes da sua obra mais famosa: The Second World War. (Fonte: Wikipédia)
 

domingo, 27 de maio de 2012

"Retrato" - Poema de Cecília Meireles


Art Frahm (1907 - 1981), Moonlight  Beauty – Peg O’ My Heart



Retrato 


Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo. 

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra. 

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face? 


Cecília Meireles, 
in Viagem


Pensamentos e Citações



"Ser simples é complicado." 

(Amália Rodrigues)

Amália da Piedade Rodrigues (Lisboa, 1 de Julho de 1920 — Lisboa, 6 de Outubro de 1999) foi uma fadista, cantora e atriz portuguesa, geralmente aclamada como a voz de Portugal e uma das mais brilhantes cantoras do século XX. Está sepultada no Panteão Nacional, entre os portugueses ilustres.
Tornou-se conhecida mundialmente como a Rainha do Fado e, por consequência, devido ao simbolismo que este género musical tem na cultura portuguesa, foi considerada por muitos como uma das suas melhores embaixadoras no mundo.


Mário Quintana


"A felicidade é um sentimento simples; você pode encontrá-la e deixá-la ir embora, 
por não perceber a sua simplicidade." 

(Mário Quintana)

Mário de Miranda Quintana (Alegrete, 30 de julho de 1906 — Porto Alegre, 5 de maio de 1994) foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro.


Paulo Coelho


"As coisas mais simples da vida são as mais extraordinárias,
 e só os sábios conseguem vê-las." 

(Paulo Coelho)

Paulo Coelho (Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1947) é um escritor, letrista e filósofo esotérico brasileiro.


Oscar Wilde


"Adoro as coisas simples. Elas são o último refúgio de um espírito complexo." 

(Oscar Wilde)

Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde (Dublin, 16 de outubro de 1854 — Paris, 30 de novembro de 1900) foi um escritor irlandês que brilhou na sociedade londrina da sua época, pela esfuziante inteligência, pelo dandismo e pelo individualismo, que o levaram a fulgurações de um humor impecável. A sua vida e a sua obra deram-lhe um a popularidade enorme, ora alçada à «grandiosidade do seu génio», ora rebaixada à cominação pública pela sua relação homossexual, ao tempo, crime grave. O «estético» romance O Retrato de Dorian Gray, as alegres, e inovadoras na linguagem, peças teatrais, os pungentes dramas humanos que são A Balada e o De Profundis, e ainda as suas reflexões político-sociais, próximas de um cero socialismo, quase sempre paradoxal, marcam-lhe um lugar na literatura inglesa, no reinado vitoriano, nada afim das suas posições iconoclastas. Hoje em dia, Oscar Wilde é, sobretudo, lembrado pelas suas frases e paradoxos, alguns tornados bordões da nossa linguagem quotidiana, não apenas pela rebeldia, como pela inegável inteligência, ora profunda, ora subtil, ora superficial, mas sempre acutilante e modificadora das mentalidades.


Katherine Hepburn


"Nunca deixo de ter em mente que o simples facto de existir já é divertido." 

(Katherine Hepburn)

Katharine Houghton Hepburn (Hartford, 12 de Maio de 1907 — Old Saybrook, 29 de Junho de 2003) foi uma importante actriz dos Estados Unidos da América. Hepburn actuou no cinema, na televisão e no teatro, e hoje é reconhecida como sendo um símbolo feminista e permanece uma das mais famosas estrelas de cinema de sempre.


Albert Einstein 


"Tudo deveria se tornar o mais simples possível, mas não simplificado." 

(Albert Einstein)

Albert Einstein, Ulm, 14 de março de 1879 — Princeton, 18 de abril de 1955) foi um físico teórico alemão radicado nos Estados Unidos. É conhecido por desenvolver a teoria da relatividade. Recebeu o Nobel de Física de 1921, pela correta explicação do efeito fotoeléctrico; no entanto, o prémio só foi anunciado em 1922. O seu trabalho teórico possibilitou o desenvolvimento da energia atómica, apesar de não prever tal possibilidade. Devido à formulação da teoria da relatividade, Einstein tornou-se mundialmente famoso. Nos seus últimos anos, sua fama excedeu a de qualquer outro cientista na cultura popular: "Einstein" tornou-se um sinónimo de génio. Foi por exemplo eleito pela revista Time como a "Pessoa do Século", e a sua face é uma das mais conhecidas em todo o mundo. Em 2005 celebrou-se o Ano Internacional da Física, em comemoração aos cem anos do chamado annus mirabilis (ano miraculoso) de Einstein, em que este publicou quatro dos mais fundamentais artigos cientifícos da física do século XX. Em sua honra, foi atribuído o seu nome a uma unidade usada na fotoquímica, o einstein, bem como a um elemento químico, o einstênio.
Cem físicos renomados o elegeram, em 2009, o mais memorável físico de todos os tempos.


Madre Teresa de Calcutá 


"O que eu faço é simples: ponho pão nas mesas e compartilho-o." 

(Madre Teresa de Calcutá)

Agnes Gonxha Bojaxhiu (Skopje, 26 de Agosto de 1910 — Calcutá, 5 de Setembro de 1997), conhecida mundialmente como Madre Teresa de Calcutá , foi uma missionária católica albanesa, nascida na República da Macedónia e naturalizada indiana, beatificada pela Igreja Católica em 2003. Considerada, por alguns, a missionária do século XX, fundou a congregação "Missionárias da Caridade", tornando-se conhecida ainda em vida pelo cognome de "Santa das sarjetas".



Confúcio 


"O homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo está perto da virtude." 

(Confúcio)

Confúcio (551 a. C. - 479 a. C.) é o nome latino do pensador chinês Kung-Fu-Tzu ou Mestre Kong. Até os dias de hoje, Confúcio continua sendo a figura histórica mais conhecida na China como mestre, filósofo e teórico político. Sua doutrina, o Confucionismo, teve forte influência não apenas sobre a China mas também sobre toda a Ásia oriental. Hoje, é difícil que se encontre alguém que, pelo menos, não tenha ouvido falar no seu nome. Conhece-se muito pouco da sua vida. Parece que os seus antepassados foram aristocratas, mas o Filósofo e moralista viveu pobre, e desde a infância teve que trabalhar muito para poder viver e auxiliar no sustento da família, pois seu pai faleceu quando tinha apenas três anos de idade. Aos quinze anos, resolveu dedicar suas energias em busca da Illuminação. Confúcio viajou por diversos reinos e esteve em íntimo contato com o povo. Pregou a necessidade de uma mudança total do sistema de governo por outro que se destinasse a assegurar o bem-estar dos súditos, pondo em prática processos tão simples como a diminuição de contribuições e o abrandamento das penalidades. Sua ideia de organização da sociedade buscava recuperar os valores antigos perdidos pelos seus contemporâneos, pois a época em que viveu estava mergulhada em violência e barbárie e a China vivia uma aguda crise social, cultural e política. Embora tentasse ocupar um alto cargo administrativo que lhe permitisse pôr em prática suas ideias, nunca o conseguiu, pois tais ideias eram consideradas muito perigosas pelos que estavam no poder. Porém, o que não pode fazer pessoalmente acabaram por fazer alguns dos seus discípulos, que, graças à boa preparação por ele ministrada, se guindaram, dia após dia, aos cargos mais elevados. Já idoso, Confúcio retirou-se para a sua terra natal, onde morreu com 72 anos. 
Sua escola foi sistematizada nos seguintes princípios: Ren (altruísmo); Li (cortesia); Zhi (conhecimento ou sabedoria moral); Xin (integridade); Zhing (fidelidade); e Yi (justiça, retidão e honradez). O livro principal (e talvez o único por ele escrito) foi Os Analectos – estruturado sobre a afirmação de uma moral humanista – que serviu de inspiração filosófica e cultural para os chineses e para toda a Ásia Oriental. Esta obra, uma compilação dos ditos e dos escritos de Confúcio, hoje, é lida e festejada nos quatro cantos do mundo. Nenhum livro, na história da Humanidade, exerceu por tanto tempo uma influência tão marcante sobre uma quantidade tão grande de pessoas, de religiosos e de dirigentes políticos. 

Cronologia em Seis Momentos:

551 a. C. - Confúcio nasce em Zou de Lu. 
517 a . C. - Confúcio deixa Lu e vai para Qi. O duque Jing de Qi faz com que ele volte a Lu. 
510 a. C. - Apogeu de Confúcio. 
497 a. C. - Confúcio vai para Wei. 
484 a. C. - Confúcio abandona suas aspirações políticas e retorna ao Estado de Lu. 
479 a. C. - Confúcio morre no dia 11 da quarta lua.


Rudyard Kipling


"Tenho comigo, seis servos leais (que me ensinaram tudo que aprendi); 
Os seis nomes são:
O QUE, POR QUE e QUANDO, COMO, ONDE e QUEM." 

(Rudyard Kipling)

Romancista e poeta inglês, Rudyard Kipling nasceu em 1865, em Bombaím, na Índia colonial, filho de um professor de Artes e Ofícios e da cunhada do pintor Edward Burne-Jones, Kipling foi educado por uma aia indiana, que lhe ensinou, pela magia das histórias de encantar, a língua Hindu mesmo antes do Inglês em que viria escrever.
Vencedor do prémio Nobel em 1907, foi publicando algumas obras, embora a uma cadência mais demorada. Entre 1922 e 1925 desempenhou as funções de reitor da Universidade de St. Andrews. Faleceu a 18 de janeiro de 1936, em Londres, tendo aos seus restos mortais sido concedida a honra de sepultura no Poet's Corner, na Abadia de Westminster. A sua autobiografia, Something Of Myself, foi publicada postumamente, em 1937.