Abraham Louis Buvelot, Near Bacchus Marsh, Sunset Over the Werribee, 1876
Quando está frio no tempo frio
Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das coisas
O natural é o agradável só por ser natural.
Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno —
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar —
No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.
Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.
Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer coisa que não fosse o Mundo.
24-10-1917
Alberto Caeiro, "Poemas Inconjuntos"
In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.
(Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.)
Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993). - 92.
Portrait of Abram Louis Buvelot by Julian Ashton, 1880
Abraham-Louis Buvelot (Morges, 1814 - Melbourne, 1888) foi um artista Suíço que teve marcante passagem pelo Brasil e pela Austrália no século XIX.
Era pintor, litógrafo, fotógrafo, desenhista e professor. Estudou com Marc-Louis Arlaud na Escola de Desenho de Lausanne, transferindo-se para o Brasil em 1835, fixando-se primeiro em Salvador, onde deu aulas de pintura, e a seguir no Rio de Janeiro. Na então capital brasileira realizou uma paisagem por encomenda da imperatriz Dona Teresa Cristina que lhe valeu o título de Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa.
Junto com Louis-Auguste Moreaux fez diversos registos em litografia da paisagem e da gente carioca, reunidas no álbum O Rio de Janeiro Pitoresco, publicado em 1850. Foi um dos fundadores da Officina Imperial Buvelot & Prat, que funcionou de 1845 até 1856 e prestou diversos serviços em daguerreotipia para a Casa Imperial, sendo por isso agraciados com o título de Photographos da Casa Imperial.
Em 1860 voltou para a Suíça, partindo poucos anos depois para a Austrália, com breve passagem pelo Brasil. Radicando-se em Melbourne, onde veio a falecer, desenvolveu intensa atividade como paisagista.
Abraham Louis Buvelot, Wintermorgen bei Heidelberg
Abraham Louis Buvelot, View of the Church of Santa Fede
Abraham Louis Buvelot, Vista da Gamboa, no Rio de Janeiro, 1852
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