sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

"O teu rosto" - Poema de António Ramos Rosa



John Michael Wright (English or Scottish, 1617-1694), Retrato de Barbara Villiers, 1670 
(Barbara Palmer, 1° Duquesa de Cleveland, Condessa de Castlemaine) 



O teu rosto


Sonhei tanto com um ardente corpo 
entre o fragor dos monstros e a mudez dos muros 
que o meu suor modelou os espetros do mundo 
e as sonâmbulas figuras do meu desejo errante

Perdi-me tantas vezes no desespero dos labirintos 
na solidão da sede ou no fundo de um túnel 
que me senti incapaz de esperar o nupcial encontro 
que me libertaria dos círculos infernais

Mas encontrei-te para além da névoa 
com o fulgor oval de um começo puro 
e com a fragrância dos teus olhos matinais

No animal ardor o meu sangue subia 
e no teu rosto via uma rosácea azul 
e nos teus lábios um sonho de inteligência branca 
em que voavam duas aves na penumbra das fronteiras
 

António Ramos Rosa, in "O Teu Rosto"
Pedra Formosa Edições, 1994


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