segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

"O Poema" - Casimiro de Brito


Giovanni Domenico Tiepolo (1727–1804), The Procession of the Trojan Horse in Troy, c. 1760, 
 inspired by Virgil's Aeneid, National Gallery
 


O Poema


Poemas, sim, mas de fogo
devorador. Redondos como punhos
diante do perigo. Barcos decididos
na tempestade. Cruéis. Mas de uma
crueldade pura: a do nascimento,
a do sono, a da morte.

Poemas, sim, mas rebeldes.
Inteiros como se de água, e,
como ela, abertos à geometria
de todos os corpos. Inteiros
apesar do barro e da ternura
do seu perfil de astros.

Poemas, sim, mas de sangue.
Que esses poemas brotem do
oculto. Que libertem o seu pus
na praça pública. Altos, vibrantes
como um sismo, um exorcismo
ou a morte de um filho.



Pierre-Narcisse Guérin (1774–1833), Eneias descreve a queda de Troia a Dido,  
rainha de Cartago, 1815.  Museu do Louvre


"Inconstante e sempre mutável é a mulher."

Virgílio
(Públio Virgílio Maro, 70 a.C. 19 a.C.), in Eneida

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