Edouard Louis Dubufe, Portrait of Rosa Bonheur with Bull, 1857
Retrato do artista quando coisa
Retrato do artista quando coisa: borboletas
Já trocam as árvores por mim.
Insetos me desempenham.
Já posso amar as moscas como a mim mesmo.
Os silêncios me praticam.
De tarde um dom de latas velhas se atraca
em meu olho
Mas eu tenho predomínio por lírios.
Plantas desejam a minha boca para crescer
por de cima.
Sou livre para o desfrute das aves.
Dou meiguice aos urubus.
Sapos desejam ser-me.
Quero cristianizar as águas.
Já enxergo o cheiro do sol.
Manoel de Barros
(do livro “Manoel de Barros – Poesia Completa”, Editora Leya)
Retrato do artista quando coisa
Retrato do artista quando coisa: borboletas
Já trocam as árvores por mim.
Insetos me desempenham.
Já posso amar as moscas como a mim mesmo.
Os silêncios me praticam.
De tarde um dom de latas velhas se atraca
em meu olho
Mas eu tenho predomínio por lírios.
Plantas desejam a minha boca para crescer
por de cima.
Sou livre para o desfrute das aves.
Dou meiguice aos urubus.
Sapos desejam ser-me.
Quero cristianizar as águas.
Já enxergo o cheiro do sol.
Manoel de Barros
(do livro “Manoel de Barros – Poesia Completa”, Editora Leya)
Quando meus olhos estão sujos da civilização, cresce por dentro deles um desejo de árvores e aves.
Referência: https://citacoes.in/citacoes/115713-manoel-de-barros-quando-meus-olhos-estao-sujos-da-civilizacao-cre
Referência: https://citacoes.in/citacoes/115713-manoel-de-barros-quando-meus-olhos-estao-sujos-da-civilizacao-cre
Rosa Bonheur, (French animal painter, 1822-1899), The Lion at Home, 1881
"Quando meus olhos estão sujos da civilização, cresce por dentro deles um desejo de árvores e aves. Tenho gozo de misturar nas minhas fantasias o verdor primal das águas com as vozes civilizadas."
Manoel de Barros,
Poesia Completa. Editora Leya, 2010 - p. 199.
Rosa Bonheur, Sheep in a Landscape, 1841
“Natureza é uma força que inunda como os desertos.”
Manoel de Barros
Aprendo com abelhas do que com aeroplanos.
É um olhar para baixo que eu nasci tendo.
É um olhar para o ser menor, para o
insignificante que eu me criei tendo.
O ser que na sociedade é chutado como uma
barata – cresce de importância para o meu olho.
Ainda não aprendi por que herdei esse olhar
para baixo.
Sempre imagino que venha de ancestralidades
machucadas.
Fui criado no mato e aprendi a gostar das
coisinhas do chão –
Antes que das coisas celestiais.
Pessoas pertencidas de abandono me comovem:
tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.
Manoel de Barros,
in “Retrato do Artista quando Coisa” (1998)
É um olhar para baixo que eu nasci tendo.
É um olhar para o ser menor, para o
insignificante que eu me criei tendo.
O ser que na sociedade é chutado como uma
barata – cresce de importância para o meu olho.
Ainda não aprendi por que herdei esse olhar
para baixo.
Sempre imagino que venha de ancestralidades
machucadas.
Fui criado no mato e aprendi a gostar das
coisinhas do chão –
Antes que das coisas celestiais.
Pessoas pertencidas de abandono me comovem:
tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.
Manoel de Barros,
in “Retrato do Artista quando Coisa” (1998)
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