Joseph Caraud (French painter, 1821-1905), Ball of Yarn, 1863
Confissão
Esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama
sinto muita pena de
minha mulher
ela vai ver este
corpo
rijo e
branco
vai sacudi-lo talvez
sacudi-lo de novo:
hank!
e hank não vai responder
não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.
no entanto
eu quero que ela
saiba
que dormir todas as noites
a seu lado
e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas
e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora ser ditas:
eu te
amo.
Esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama
sinto muita pena de
minha mulher
ela vai ver este
corpo
rijo e
branco
vai sacudi-lo talvez
sacudi-lo de novo:
hank!
e hank não vai responder
não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.
no entanto
eu quero que ela
saiba
que dormir todas as noites
a seu lado
e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas
e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora ser ditas:
eu te
amo.
(Tradução: Jorge Wanderley, 1938-1999)
Joseph Caraud, La réussité, 1896
EPITÁFIO
Chegar já foi a partida.
De onde estive até nascer.
Viver só custou a vida.
Não custa nada morrer.
Jorge Wanderley
(1938-1999)
EPITÁFIO
Chegar já foi a partida.
De onde estive até nascer.
Viver só custou a vida.
Não custa nada morrer.
Jorge Wanderley
(1938-1999)
Jorge Wanderley nasceu no Recife, Pernambuco, em
1938. Médico, poeta e tradutor, começou a escrever aos 16 anos de idade,
publicando seu primeiro livro Gesta e outros poemas, em 1960.
Ainda em sua cidade natal, formou-se em Medicina, com especialização em
Neurocirurgia, carreira que abandonaria alguns anos após sua chegada ao
Rio de Janeiro, em 1976. Na capital carioca, concluiu mestrado e
doutorado em Letras, pela PUC. Nesta universidade e na UFF foi professor
de Literatura Brasileira e Teoria da Literatura nos anos 1980.
Conhecido sobretudo como tradutor e crítico
literário, não menor foi sua obra própria, que se estendeu ao longo de
quatro décadas, resultando em um fazer poético que permaneceu sempre em constante construção, grande parte reunido hoje em sua Antologia Poética,
livro publicado postumamente em 2001. Jorge Wanderley publicou
inúmeras crónicas e ensaios literários em revistas e jornais, além de
uma dezena de traduções, tanto de clássicos da literatura, de Dante (de
quem traduziu todos os poemas esparsos e também os poemas de Vita nuova)
a Shakespeare, como de autores contemporâneos, entre os quais Bukowski,
com quem muito se identificava, por ver no bardo americano uma
reprodução de si mesmo.
Em 1998, finalizou a primeira parte de seu projeto que compreendia a tradução integral d' A Divina Comédia — com a tradução anotada do Inferno,
de Dante. Também escreveu ensaios e prólogos acerca de suas traduções,
sendo laureado postumamente com o Prémio Jabuti de Tradução Literária,
em 2004, pela sua tradução do Inferno.
Jorge Wanderley faleceu no Rio de Janeiro, em 11 dezembro de 1999. (Daqui)
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