terça-feira, 14 de janeiro de 2020

"O Mundo, o Demónio e a Carne" - Poema de Armindo Trevisan


Fernando Botero, Picnic, 1989, Private collection



O Mundo, o Demónio e a Carne


Relâmpago adormecido
entre a malva e o estalo
tua penúria, ó Mundo
é a minha penúria.
Somos a mesma falta
de olhos a perseguir
a visão que negou
o barro de meu rosto.

Demónio entre o retinir
das esporas e o redondo
dia,
que fizeste da luz
a arder em minha alma?
Sou teu cúmplice na mão
que apertou o pensamento
em sua nudez.

Carne de minha carne
entre uma pedra e outra
abre-se o trigo
da maldição.
Nossos corpos são nossos
mas o abraço rói
o hálito que foi um
antes de existirmos.


Armindo Trevisan,
in 'Abajur de Píndaro e a Fabricação do Real'


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