segunda-feira, 12 de setembro de 2022

"Madrugada Camponesa" - Poema de Thiago de Mello


 
Jules Breton (French naturalist painter, 1827-1906), Les amies (Friends), 1873



Madrugada Camponesa



Madrugada camponesa,
faz escuro ainda no chão,
mas é preciso plantar.
A noite já foi mais noite,
a manhã já vai chegar.

Não vale mais a canção
feita de medo e arremedo
para enganar solidão.
Agora vale a verdade
cantada simples e sempre,
agora vale a alegria
que se constrói dia a dia
feita de canto e de pão.

Breve há de ser (sinto no ar)
tempo de trigo maduro.
Vai ser tempo de ceifar.
Já se levantam prodígios,
chuva azul no milharal,
estala em flor o feijão,
um leite novo minando
no meu longe seringal.

Madrugada da esperança
já é quase tempo de amor.
Colho um sol que arde no chão,
lavro a luz dentro da cana
minha alma no seu pendão.

Madrugada camponesa.
Faz escuro (já nem tanto),
vale a pena trabalhar.
Faz escuro, mas eu canto,
porque a manhã vai chegar.


Thiago de Mello,
in 'Faz escuro mas eu canto', 1966 



Jules Breton, Young woman in a field, 1889


Silêncio profundo!
Até o cantar dos grilos
está escondido nas rochas…


Matsuo Bashō
(Haicai / Haikai / Haiku)
Tradução de Casimiro de Brito

 

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