domingo, 27 de janeiro de 2013

"Bons amigos" - Poema de Machado de Assis


Giulio del Torre (Italian, 1856 - 1932), Merenda in Estate, 1921 


Bons amigos 


Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar. 
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende! 

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro p'ra chorar. 
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora p'ra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!" 




Giulio del Torre, 1928

Giulio del Torre, 1900

Giulio del Torre

Giulio del Torre, The Little Match Seller

Giulio del Torre

Giulio del Torre 

Giulio del Torre, Deux enfants jouant avec des chats (détail), 1891

Giulio del Torre


"A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem." - Arthur Schopenhauer 


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"Aquela praia ignorada" - Poema de Pedro Homem de Mello

 
Salvador Dali, Remorse, or Sphinx Embedded in the Sand, 1931



Aquela praia ignorada


Aquela praia ignorada
Aquela praia-contraste
Entre a liberdade e a lei
Aquela praia ignorada
Foste tu que ma mostraste
Ou fui eu que a inventei?

Lençol de seda ou de linho?
Deitei-me nele ao comprido
Quando estiveste a meu lado...
Lençol de seda ou de linho?
Lençol de espuma rompido!
Lençol de areia queimado!

Moinhos que andais no vento
Leite que escorres da lua
Quero pedir-vos perdão!
Todas as praias são brancas
Todas as praias são brancas
E só aquela é que não!

Mas é tão grande o contraste
Entre a lei e a liberdade
Que, às vezes, até nem sei
Se aquela praia ignorada
Foste tu que ma mostraste
Ou fui eu que a inventei...


Pedro Homem de Mello


Salvador Dalli, Paranoiac Visage, 1935


"Eu temo pela minha espécie quando penso que Deus é justo." 

(Thomas Jefferson)


Thomas Jefferson by Rembrandt Peale, 1800


Thomas Jefferson (Shadwell, 13 de abril de 1743 – Charlottesville, 4 de julho de 1826) foi o terceiro presidente dos Estados Unidos (1801-1809), e o principal autor da declaração de independência (1776) daquele país. 
 
Jefferson foi um dos mais influentes Founding Fathers (os "Pais Fundadores" da nação), conhecido pela sua promoção dos ideais do republicanismo nos Estados Unidos. Visualizava o país como a força por trás de um grande "Império de Liberdade" que promoveria o republicanismo e combateria o imperialismo do Império Britânico
 
Entre os eventos de destaque da história americana que ocorreram durante sua presidência estão a Compra da Louisiana (1803) e a Expedição de Lewis e Clark (1804-1806), bem como a escalada das tensões entre a Grã-Bretanha e a França que levaram à guerra com o Império Britânico em 1812, ano que deixou o cargo.
 
Como filósofo político Jefferson foi um homem do Iluminismo, que conheceu diversos dos grandes líderes intelectuais da Grã-Bretanha e França de seu tempo. Idealizou o fazendeiro yeoman como um exemplo das virtudes republicanas, alimentava uma desconfiança de cidades e financeiros, enquanto privilegiava os direitos dos estados e um governo federal rigorosamente controlado. Apoiava a separação entre Igreja e Estado e foi o autor do Estatuto da Virgínia para Liberdade Religiosa (1779, 1786).  
 
Epônimo da democracia jeffersoniana, foi co-fundador e líder do Partido Democrata-Republicano, que dominou a política dos Estados Unidos por 25 anos. Jefferson serviu como governador da Virgínia durante um período de guerra (1779-1781), foi o primeiro secretário de Estado dos Estados Unidos (1789-1793) e segundo vice-presidente dos Estados Unidos (1797-1801). 
 
Um polímata, Jefferson se destacou, entre outras coisas, como horticultor, líder político, arquiteto, arqueólogo, paleontólogo, músico, inventor e fundador da Universidade da Virgínia
 
Quando o presidente John F. Kennedy recebeu 49 vencedores do Prémio Nobel à Casa Branca, em 1962, declarou: "acredito que esta é a mais extraordinária reunião de talento e conhecimento humano que já foi reunida na Casa Branca – com a possível exceção de quando Thomas Jefferson jantava aqui sozinho." 
 
Até o presente, Jefferson é o único presidente americano a ter servido dois mandatos completos no cargo sem ter vetado um único projeto de lei do Congresso. Jefferson foi regularmente classificado pelo meio académico como um dos maiores presidentes americanos. (Daqui)

"D. Quixote foi-se embora" - Poema de Jorge Palma


Pablo Picasso, Pobres na Praia, 1903
 
 

D. Quixote foi-se embora


Acende mais um cigarro, irmão
inventa alguma paz interior
esconde essas sombras no teu olhar
tenta mexer-te com mais vigor
abre o teu saco de recordações
e guarda só o essencial
o mundo nunca deixou de mudar
mas lá no fundo é sempre igual.

E agora, que a lua escureceu
e a guitarra se partiu
D. Quixote foi-se embora
com o amigo que a tudo assistiu
as cores do teu arco-íris
estão todas a desbotar
e o que te parecia uma bela sinfonia
é só mais uma banda a passar.

A chuva encharcou-te os sapatos
e não sabes p'ra onde vais
tu desprezavas uma simples fatia
e o bolo inteiro era grande demais
agarras-te a mais uma cerveja
vazia como um fim de verão
perdeste a direcção de casa
com a tua sede de perfeição.

Tens um peso enorme nos ombros
os braços que pareciam voar
tu continuas a falar de amor
mas qualquer coisa deixou de vibrar
os teus sonhos de infância já foram
velas brancas ao longo do rio
hoje não passam de farrapos
feitos de medo, solidão e frio.




Jorge Palma - D. Quixote foi-se embora



"Primeiro foi necessário civilizar o homem em relação ao próprio homem. Agora é necessário civilizar o homem em relação à natureza e aos animais."  
 

"Quando está frio no tempo frio" - Poema de Alberto Caeiro


Abraham Louis Buvelot, Near Bacchus Marsh, Sunset Over the Werribee, 1876
 


Quando está frio no tempo frio


Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável, 
Porque para o meu ser adequado à existência das coisas 
O natural é o agradável só por ser natural. 

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino, 
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno — 
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita, 
E encontra uma alegria no facto de aceitar — 
No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável. 

Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece 
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida? 
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço, 
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime, 
Da mesma inevitável exterioridade a mim, 
Que o calor da terra no alto do Verão 
E o frio da terra no cimo do Inverno. 

Aceito por personalidade. 
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos, 
Mas nunca ao erro de querer compreender demais, 
Nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência, 
Nunca ao defeito de exigir do Mundo 
Que fosse qualquer coisa que não fosse o Mundo. 
 
24-10-1917

Alberto Caeiro, "Poemas Inconjuntos" 
In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. 
(Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) 
Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993). - 92.
 

Portrait of Abram Louis Buvelot by Julian Ashton, 1880


Abraham-Louis Buvelot (Morges, 1814 - Melbourne, 1888) foi um artista Suíço que teve marcante passagem pelo Brasil e pela Austrália no século XIX
 
Era pintor, litógrafo, fotógrafo, desenhista e professor. Estudou com Marc-Louis Arlaud na Escola de Desenho de Lausanne, transferindo-se para o Brasil em 1835, fixando-se primeiro em Salvador, onde deu aulas de pintura, e a seguir no Rio de Janeiro. Na então capital brasileira realizou uma paisagem por encomenda da imperatriz Dona Teresa Cristina que lhe valeu o título de Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa
Junto com Louis-Auguste Moreaux fez diversos registos em litografia da paisagem e da gente carioca, reunidas no álbum O Rio de Janeiro Pitoresco, publicado em 1850. Foi um dos fundadores da Officina Imperial Buvelot & Prat, que funcionou de 1845 até 1856 e prestou diversos serviços em daguerreotipia para a Casa Imperial, sendo por isso agraciados com o título de Photographos da Casa Imperial.
Em 1860 voltou para a Suíça, partindo poucos anos depois para a Austrália, com breve passagem pelo Brasil. Radicando-se em Melbourne, onde veio a falecer, desenvolveu intensa atividade como paisagista.
 

Abraham Louis Buvelot, Wintermorgen bei Heidelberg


Abraham Louis Buvelot, View of the Church of Santa Fede


Abraham Louis Buvelot, Vista da Gamboa, no Rio de Janeiro, 1852

domingo, 20 de janeiro de 2013

"Adoração" - Poema de Guerra Junqueiro


Frederick Morgan, Marguerites


Adoração 


Eu não te tenho amor simplesmente. A paixão 
Em mim não é amor; filha, é adoração! 
Nem se fala em voz baixa à imagem que se adora. 
Quando da minha noite eu te contemplo, aurora, 
E, estrela da manhã, um beijo teu perpassa 
Em meus lábios, oh! quando essa infinita graça 
do teu piedoso olhar me inunda, nesse instante 
Eu sinto – virgem linda, inefável, radiante, 
Envolta num clarão balsâmico da lua, 
A minh'alma ajoelha, trémula, aos pés da tua! 
Adoro-te!... Não és só graciosa, és bondosa: 
Além de bela és santa; além de estrela és rosa. 
Bendito seja o deus, bendita a Providência 
Que deu o lírio ao monte e à tua alma a inocência, 
O deus que te criou, anjo, para eu te amar, 
E fez do mesmo azul o céu e o teu olhar!...


Guerra Junqueiro
, in 'Poesias Dispersas'


 Frederick Morgan, The garland


"Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal."

(Friedrich Nietzsche)


 Frederick Morgan, Picking Wild Flowers


 Frederick Morgan, 1927


Frederick Morgan (1847 - 1856), was an English painter of portraits, animals, domestic and country scenes. He became famous for his idyllic genre scenes of childhood.
Morgan was born in London. He was commonly known as Fred Morgan and was the son of John Morgan, a successful genre artist sometimes known as 'Jury Morgan' (after one of his paintings "The Gentlemen of the Jury").
At the age of fourteen he was taken out of school by his father who then tutored him in art. At the age of 16, while still studying with his father, his first picture, "The Rehearsal", was exhibited at the Royal Academy, and, after a hiatus of several years, his paintings were shown there regularly. For a while he worked as a portrait artist for an Aylesbury photographer, - this training proved to be crucial as it "taught him how to observe closely and to give the greatest attention to detail."
Eventually he turned to other subjects for his art, in particular idyllic genre scenes of country life and childhood. For many years, starting in 1874, Thomas Agnew & Sons purchased all the work he produced. Over this period he painted some of his most popular works such as "The Doll’s Tea Party" (1874), "Emigrants' Departure" (1875) and "School Belles" (1877). Most of his painting was done in the village of Shere close to Guildford, a well-known retreat for artists. He also painted in Normandy, including "Midday Rest" (1879) and "An Apple Gathering" (1880).
Although an excellent portrait artist, Morgan had problems in depicting pets and barnyard animals - he enlisted the aid of either Arthur John Elsley or Allen Sealey (1850–1927) when such problems needed resolving.
He is known mostly for his romantic and sentimental paintings of children in the same style as his contemporary Arthur John Elsley. His paintings achieved great popularity in his lifetime and were widely published. He exhibited with the Royal Academy and was a member of the Royal Institute of Oil Painters (ROI).
In 1872 he married another painter, Alice Mary Havers (1850–1890); they had three children. Their eldest son, known as Val Havers, also developed into a painter. Frederick Morgan married twice more, producing two children from the second marriage. Morgan's paintings are exhibited at many art galleries and museums including the Walker Art Gallery in Liverpool and the Russell-Cotes Museum in Bournemouth. "His Turn Next", was used to advertise Pears' Soap and is in the Lady Lever Art.


Frederick Morgan, First Steps


"O amor é a arte de encontrar no rosto do outro o espelho dos nossos sonhos."

Inês Pedrosa, Expresso

domingo, 13 de janeiro de 2013

"A Demora" - Poema de Mia Couto


Federico Zandomeneghi, Lady in a Meadow



A Demora 


O amor nos condena: 
demoras 
mesmo quando chegas antes. 
Porque não é no tempo que eu te espero. 

Espero-te antes de haver vida 
e és tu quem faz nascer os dias. 

Quando chegas 
já não sou senão saudade 
e as flores 
tombam-me dos braços 
para dar cor ao chão em que te ergues. 

Perdido o lugar 
em que te aguardo, 
só me resta água no lábio 
para aplacar a tua sede. 

Envelhecida a palavra, 
tomo a lua por minha boca 
e a noite, já sem voz 
se vai despindo em ti. 

O teu vestido tomba 
e é uma nuvem. 
O teu corpo se deita no meu, 
um rio se vai aguando até ser mar.


in "idades cidades divindades" 



GALERIA DE FEDERICO ZANDOMENEGHI (3)
Federico Zandomeneghi, Ragazza che raccoglie fiori
 

Federico Zandomeneghi, Reverie
 

Federico Zandomeneghi, Reading by a Window
 

Federico Zandomeneghi, Matilde
 

Federico Zandomeneghi, Portrait of a Young Beauty
 

Federico Zandomeneghi, Allo specchio
 

Federico Zandomeneghi, Hommage à Toulouse-Lautrec, 1917
 

Federico Zandomeneghi, The Reader
 

Federico Zandomeneghi, La lettrice (Teresa Martelli a Castiglioncello), 1865
 

Federico Zandomeneghi, The Reader, Private Collection
 

Federico Zandomeneghi, Languor
 

Federico Zandomeneghi, Mother and Daughter
 

Federico Zandomeneghi, The Last Glance
 

 Federico Zandomeneghi, Tête de femme, 1892
 

  Federico Zandomeneghi, L'Amico Fedele, 1874

"Ausência" - Poema de Carlos Drummond de Andrade


Il violoncellista, 1879 



Ausência 


Por muito tempo achei que a ausência é falta. 
E lastimava, ignorante, a falta. 
Hoje não a lastimo. 
Não há falta na ausência. 
A ausência é um estar em mim. 
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, 
que rio e danço e invento exclamações alegres, 
porque a ausência, essa ausência assimilada, 
ninguém a rouba mais de mim.




Galeria de Federico Zandomeneghi
Federico Zandomeneghi, Il risveglio (Femme qui s'étire), 1895

Federico Zandomeneghi, In Bed

Federico Zandomeneghi, Reflection

Federico Zandomeneghi, Woman leaning on a chair

Federico Zandomeneghi, Promenade

Federico Zandomeneghi, Young Girl Reading

Federico Zandomeneghi, Young Girl Reading

Federico Zandomeneghi,  Le tub

Federico Zandomeneghi, Le tub

Federico  Zandomeneghi, Studio de nuca

Federico Zandomeneghi, Visita in camerino, 1886

Federico Zandomeneghi, Giovane donna allo specchio