As Pombas
Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada.
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.
Raimundo Correia
Raimundo Correia
A admiração nutrida por António Feliciano de Castilho levou-o desde muito cedo ao cultivo da poesia. Aos dezanove anos publicou Primeiros Sonhos (1879), volume de versos que foi bem acolhido pela crítica. Licenciado em Direito nesse mesmo ano, fundou em S. Paulo, juntamente com alguns colegas, a Revista de Ciências e Letras, um dos primeiros órgãos literários brasileiros interessados em defender e difundir o Realismo. Depois de se formar, foi para o Rio de Janeiro, onde entrou para a magistratura. Ocupou também importantes cargos de caráter administrativo e diplomático.
Em 1883 deu-se a publicação da importante obra poética Sinfonias, que o consagrou, e, onde se encontra um dos mais conhecidos sonetos da língua portuguesa, “As pombas”. Seguiram-se-lhe os volumes Versos e Versões (1887) e Aleluias (1891). A sua poesia abordava uma temática predominantemente filosófica. Em 1897 tornou-se sócio fundador da Academia Brasileira de Letras.
Mais tarde, deixou-se absorver pela política, embora continuasse, por vezes, a publicar alguns versos de caráter cómico ou satírico em revistas e jornais. Em 1898, quando era representante diplomático em Lisboa, publicou uma antologia dos seus versos com uma introdução de João da Câmara. No ano seguinte, regressou ao Brasil e retomou a atividade de magistrado.
Raimundo Correia ocupa um dos mais altos postos na poesia brasileira. Seu livro de estreia, Primeiros sonhos (1879) insere-se ainda no Romantismo. Já em Sinfonias (1883) assume o que seria definitivo em sua obra, o Parnasianismo. Segundo os cânones dessa escola, que estabelecem uma estética de rigor formal, ele foi um dos mais perfeitos poetas da língua portuguesa, formando com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac a famosa "Tríade Parnasiana".
Os temas adotados por Raimundo Correia giram em torno da perfeição formal dos objetos. Ele diferencia-se um pouco dos demais parnasianos porque sua poesia é marcada por um forte pessimismo, chegando até a ser sombria.
Ao analisar a obra de Raimundo Correia percebe-se que há nela uma evolução. Ele iniciou sua carreira como romântico, depois adotou o parnasianismo e, em alguns poemas aproximou-se da escola simbolista.
Além de poesia, deixou obras de crítica, ensaio e crónicas.
“Se houver amor em sua vida, isso pode compensar muitas coisas que lhe fazem falta. Caso contrário, não importa o quanto tiver, nunca será o suficiente para alcançar a felicidade.”
(Friedrich Nietzsche)
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