Mikhail Nesterov (1862–1942), Vision to the Youth Bartholomew, 1890. (Symbolism)
State Tretyakov Gallery, Moscow
State Tretyakov Gallery, Moscow
Tem a Virtude o Prémio
Tardio às vezes, sempre merecido,
Tem a Virtude o prémio aparelhado
Ao profícuo talento, ao peito honrado,
Que do dever o estádio tem corrido.
O Sábio, que dos louros esquecido
Só no obrar bem os olhos tem cravado
Inopino também se acha coroado
Por mãos soberanas com o laurel devido
Útil à Pátria seja, as paixões dome,
Seja piedoso, honesto, afável, justo;
Que no futuro o espera ínclito nome.
Assim falou Minerva ao Coro augusto,
Pondo no Templo do imortal Renome,
De glória ornado, o teu prezado Busto.
Livraria Sá da Costa - Editora. Lisboa. (1941). (Daqui)
Filinto Elísio
Filinto Elísio (Lisboa, 23 de Dezembro de 1734 – Paris, 25 de Fevereiro de 1819), pseudónimo do Padre Francisco Manuel do Nascimento, foi um dos mais importantes poetas do Neoclassicismo português.
Oriundo de uma família humilde - o pai era fragateiro e a mãe era peixeira, naturais de Ílhavo
-, estudou e recebeu ordens sacras graças à proteção de um embarcadiço
de mais largos recursos económicos. Integrou-se, mais tarde, num pequeno
círculo de comerciantes letrados, no qual se encontravam alguns
franceses que, provavelmente, exerceram influência notável na sua
formação iluminista e liberal. Por esta altura, participou da guerra dos poetas, inscrevendo-se no grupo da Ribeira das Naus, que se opôs à Arcádia Lusitana. Foi neste conflito que, sob o nome de Niceno,
propugnou a imitação do bom modelo clássico e o exemplo dos
Quinhentistas.
No convento de Chelas, travou Francisco Manuel do
Nascimento conhecimento com as duas filhas do Marquês de Alorna,
tendo sido professor de latinidade de D. Leonor de Almeida, futura
marquesa de Alorna, da qual recebeu o nome arcádico, e mestre de música
de sua irmã, D. Maria de Almeida, a quem cortejou muito em verso.
Apesar
de ser clérigo, teve de fugir para França, exilando-se em Paris em 1778, pelo facto de ler livros racionalistas franceses proibidos pela Inquisição.
Aí estabeleceu relações de amizade com o poeta Lamartine, que lhe
dedicou um poema.
À exceção de uma estadia de quatro anos em Haia,
viveu o resto da vida neste país, compondo em prol da estética
horaciana e dos problemas da longínqua pátria perante os rumos abertos
pelas revoluções americana e francesa.
A França era, para Filinto
Elísio, a imagem da civilização e foi, sem dúvida, através do contacto
com os primeiros românticos franceses que ele, para lá do neoclassicismo
horaciano, chegou, por vezes, a exprimir-se numa linguagem de livre
confessionalismo pré-romântico. Mas foi sobretudo na ideologia das luzes
que este poeta mais vivamente mergulhou, servindo um classicismo
arcádico que se harmonizava com a simbologia e os gostos neoclássicos da
revolução. (Daqui)
Obras Completas
A obra de Filinto Elísio compreende todo o vasto receituário clássico - odes, epigramas, cartas,
enigmas, epinícios, epicédios, etc. - em que o poeta revela as suas
emoções mais sentidas. O verso de Filinto é duro, trabalhado e
arcaizante. Por outro lado, a sua prosa, que se encontra espalhada, em
notas variadas, por todas as suas obras, denota uma grande diversidade
de recursos, prejudicados, por vezes, pelo excessivo zelo purista do
idioma. Foi um escritor apegado a certos processos que considerava
"quinhentistas", mas que são, em parte, "seiscentistas", nomeadamente os
hipérbatos e a expressividade do vernaculismo vocabular.
Já quase no
fim da vida, Filinto Elísio registou algumas normas e conceitos acerca da poesia e da língua na Epístola Da Arte Poética Portuguesa, dirigida a José Maria de Brito. Nesta carta defende, fundamentalmente, o verso branco
e a liberdade de pensamento a ele associada, a valentia da expressão, a
pureza e o francesismo do léxico e a sua renovação sobre base
quinhentista e latina. Dá origem a uma orientação estética chamada de
Filintismo, adversária da fluência fácil do Elmanismo, que aponta para
os cânones horacianos, para o exemplo de Garção e para o formalismo
arcádico de que é o último e digno representante. A Elísia pátria de Filinto é tipicamente quinhentista, com os seus diversos heróis, dos quais Camões é o expoente máximo, cantados à maneira arcádica com uma grande pureza
formal.
Fiel a este movimento arcádico, Filinto revela-se, porém, pelo
egocentrismo de algumas das suas líricas, pela sua revolta e pelo
entusiasmo relativo às ideias iluministas, um precursor do movimento
romântico. Exprime nas suas odes, nas suas epístolas e nas suas sátiras,
todo o alvoroço do seu tempo - descreve-nos a sua situação de exilado,
as faltas de dinheiro; insurge-se contra o obscurantismo clerical; canta
veementemente a liberdade, a tomada da Bastilha, Washington e a independência americana e todos os defensores do progresso e do domínio da Natureza.
Este é um poeta aristocraticamente letrado no seu discurso, mas burguês e plebeu no que respeita aos temas e ao léxico, o que se manifesta no seu apego gastronómico aos ovos-moles, às trouxas de ovos, às morcelas, aos melões e na rememoração de festas populares ao ar livre e de uma hilariedade pagã.
Este é um poeta aristocraticamente letrado no seu discurso, mas burguês e plebeu no que respeita aos temas e ao léxico, o que se manifesta no seu apego gastronómico aos ovos-moles, às trouxas de ovos, às morcelas, aos melões e na rememoração de festas populares ao ar livre e de uma hilariedade pagã.
A obra de Filinto Elísio
tem sido estudada por Fernando Alberto Torres Moreira, professor da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (tese de mestrado com o
título "O Epigrama em Filinto Elísio - Um Género para um Poeta",
1995).
Têm vindo a ser publicadas desde 1998 as Obras Completas de Filinto Elísio.
Fernando Moreira, professor da UTAD, com o apoio do Ministério da
Cultura e do Instituto Português do Livro e da Leitura, coordena
atualmente a reedição das mesmas. Foram publicados até ao momento quatro
volumes (Filinto Elísio: Obras Completas, coleção Clássicos da Literatura Portuguesa, Braga, Edições APPACDM, 1998-1999. Edição de Fernando Moreira). (Daqui)
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