Só para ver curar minhas pernas partidas
Nas dores eternas
Dos saltos gorados,
Eu amo a aparente inconsciência dos loucos,
Embora fique aos poucos nos meus saltos
Desabridos e falhados.
Apraz-me, no espelho, esta face esmagada,
À força de querer transpor o além
Da minha porta fechada...
Porém,
Seja o que for, que seja,
Se uma certeza alcanço
E uma mulher me beija.
Que importa
Que eu fique molemente olhando a minha porta
Aberta,
Ou que eu parta e a morte me espreite
Num desfiladeiro?...
E quem virá chorar e quem virá,
Se a morte que vier for a de lá
Certeira e minha...
E merecida como um sono que se dorme
Após a noite perdida?...
E que piedade anda a escrever um frágil,
Na embalagem dos ossos
Que trago emprestados...
Que deixarei ficar ao sol e à chuva
E que serão limados
No entulho dos calhaus que também foram rocha?...
Para quê, se mil vezes provoco
Os tombos do chegar e do partir?!
- A minha fragilidade
Foi-me dada
Para me servir.
Políbio Gomes dos Santos,
Nas dores eternas
Dos saltos gorados,
Eu amo a aparente inconsciência dos loucos,
Embora fique aos poucos nos meus saltos
Desabridos e falhados.
Apraz-me, no espelho, esta face esmagada,
À força de querer transpor o além
Da minha porta fechada...
Porém,
Seja o que for, que seja,
Se uma certeza alcanço
E uma mulher me beija.
Que importa
Que eu fique molemente olhando a minha porta
Aberta,
Ou que eu parta e a morte me espreite
Num desfiladeiro?...
E quem virá chorar e quem virá,
Se a morte que vier for a de lá
Certeira e minha...
E merecida como um sono que se dorme
Após a noite perdida?...
E que piedade anda a escrever um frágil,
Na embalagem dos ossos
Que trago emprestados...
Que deixarei ficar ao sol e à chuva
E que serão limados
No entulho dos calhaus que também foram rocha?...
Para quê, se mil vezes provoco
Os tombos do chegar e do partir?!
- A minha fragilidade
Foi-me dada
Para me servir.
Políbio Gomes dos Santos,
in 'As Três Pessoas', 1938
Poeta português, Políbio Gomes dos Santos nasceu a 8 de agosto de 1911, em Ansião, e morreu precocemente, vítima de tuberculose, a 3 de setembro de 1939, na mesma localidade.
Frequentou o Instituto dos Pupilos do Exército, que abandonou, passando para Coimbra, onde viria a matricular-se nos cursos superiores de Letras e de Direito.
Não terminou os seus estudos, vítima, aos 28 anos, de tuberculose. Teve, porém, tempo para se afirmar, nos círculos universitários e literários de Coimbra, como uma das grandes promessas da poesia da sua geração.
Ligado à primeira geração neorrealista, colaborou em publicações como Cadernos da Juventude, O Diabo e Sol Nascente. Em 1938 publicou As Três Pessoas.
No ano da sua morte veio a lume o belo livro Voz que Escuta, inserto na coleção Novo Cancioneiro, onde se afirmaram poetas conotados com a estética poética neorrealista, como João José Cochofel, Fernando Namora, Joaquim Namorado, Mário Dionísio e Carlos de Oliveira.
Toda a poesia de Políbio Gomes dos Santos foi depois coligida num só volume, Poemas, publicado em1981. (Daqui)
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