Museo Gregorio Prieto
O que há de vir é belo
(Pensamos). Belo e ardente.
Fosse o futuro assim!
Pudesse agora tê-lo!
Agora, – e o Presente
Deixá-lo para o fim.
O dia de amanhã?
Ilusão. Frioleiras.
Pois bem: quem o tivera
Já gasto em cinza vã,
Em vez de, à sua espera,
Ficar a vida inteira!
Amanhã: dia de hoje
Que não chegou ainda.
Seja! Mas foge
A vida, antes que venha!
A sua face é linda.
Pena que se detenha.
Há de vir, certamente,
Daqui a muitos anos.
Todavia no mundo
Só haverá presente.
Enganos. Desenganos.
Um silêncio profundo.
Dia tão indeciso,
Tão cheio de mistério!
Virá pelo Outono,
Quando não for preciso,
Acordar-me do sono,
Talvez no cemitério.
João Cabral do Nascimento,
em 'Cancioneiro', 1943
Museo Gregorio Prieto
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