terça-feira, 7 de junho de 2022

"O Idílio Suave" - Poema de Guilherme de Almeida

 
 
Antoine Watteau (French Rococo painter, 1684–1721), La Boudeuse, c. 1715–1718
 


O Idílio Suave


Chegas. Vens tão ligeira
e és tão ansiosamente esperada, que enfim,
nem te sentindo o passo e já te tendo inteira,
completamente em mim,
quando, toda Watteau, silenciosa, apareces,
é como se não viesses.

Vens... E ficas tão perto
de mim, e tão diluída em minha solidão,
que eu me sinto sozinho e acho imenso e deserto
e vazio o salão...
E, sem te ouvir nem ver, arde-me em febre a face,
como se eu te esperasse!

Partes. Mas é tão pouco
o que de ti se vai que ainda te vejo o arfar
do seio, e o teu cabelo, e o teu vestido louco,
e a carícia do olhar,
e a tua boca em flor a dizer-me doidices,
como se não partisses!


Guilherme de Almeida
,
in 'Os Melhores Poemas de Guilherme de Almeida, 
São Paulo, 1993'

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