segunda-feira, 6 de junho de 2022

"A um Poeta" - Poema de Antero de Quental


Gregorio Prieto (1897-1992), Retrato de Ramón Pérez de Ayala (1880-1962), 1924,  
87 x 67 cm. Óleo sobre lienzo. Museo Gregorio Prieto
 


A um Poeta

                                                 Surge et ambula!
 
Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.

Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares…
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno…

Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções…
Mas de guerra… e são vozes de rebate!

Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate! 
in “Sonetos”

Sem comentários: