Claude Monet (French painter and founder of impressionist painting, 1840–1926), In the Woods
at Giverny, Blanche Hoschedé Monet at Her Easel with Suzanne Hoschedé Reading, 1887,
oil on canvas, 91.4 x 97.7 cm, Los Angeles County Museum of Art
at Giverny, Blanche Hoschedé Monet at Her Easel with Suzanne Hoschedé Reading, 1887,
oil on canvas, 91.4 x 97.7 cm, Los Angeles County Museum of Art
Beleza
Vem do amor a Beleza,
Como a luz vem da chama.
É lei da Natureza:
Queres ser bela? – ama.
Como a luz vem da chama.
É lei da Natureza:
Queres ser bela? – ama.
Formas de encantar,
Na tela o pincel
As pode pintar;
No bronze o buril
As sabe gravar;
E estátua gentil
Fazer o cinzel
Da pedra mais dura...
Mas Beleza é isso? – Não; só formosura.
Sorrindo entre dores
Ao filho que adora
Inda antes de o ver,
– Qual sorri a aurora
Chorando nas flores
Que estão por nascer –
A mãe é a mais bela das obras de Deus.
Se ela ama! – O mais puro do fogo dos céus
Lhe ateia essa chama de luz cristalina:
É a luz divina
Que nunca mudou,
É luz... é a Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.
Edições Vercial; 1ª edição, 2010
Folhas Caídas
Coletânea de poesias líricas de Almeida Garrett
(Porto, 4 de fevereiro de 1799 — Lisboa, 9 de dezembro de 1854), é a última e a mais importante obra do autor. Foi publicada apenas um
ano antes da sua morte, em 1853, e sob anonimato, talvez pelo receio do
escândalo, dadas as relações amorosas com a Viscondessa da Luz, de que
em grande parte este livro é a expressão literária.
A obra teve grande
sucesso devido sobretudo à atmosfera erotizante de algumas das suas
composições e também à invulgar expressão de conflito psicológico e
amoroso vivido pelo autor. Esta obra revela grandes aspetos inovadores,
desde as imagens até à organização estrófica, passando pelo tom
coloquial, quase confessional, de muitas das poesias - fazendo dela a
melhor obra de poesia romântica portuguesa. Saliente-se ainda a
inclusão, na segunda parte, de poesias de inspiração popular, bem como
algumas traduções.
Na "Advertência" à obra, Garrett apresenta o poeta
como ser incompreendido, marginalizado, condenado à busca incessante do
ideal: "Mas sei que as presentes Folhas Caídas representam o
estado de alma do poeta nas variadas, incertas e vacilantes oscilações
do espírito, que, tendendo ao seu fim único, a posse do Ideal, ora pensa
tê-lo alcançado, ora estar a ponto de chegar a ele, ora ri amargamente
porque reconhece o seu engano, ora se desespera de raiva impotente por
sua credulidade vã." Assim se compreende a dedicatória ao "Ignoto deo", o
Deus aos pés de quem o poeta deposita a sua "combatida/existência",
misto de "luz" e "treva".
Ao qualificar o seu livro como uma "confissão
sincera", Garrett sugeriu a identificação do sujeito poético com o autor
real, favorecendo ele próprio a leitura dos poemas amorosos das Folhas Caídas
como episódios da sua ligação com Rosa Montufar, viscondessa da Luz. Os
poemas exprimem os sentimentos amorosos contraditórios que caracterizam
a paixão amorosa, nas suas diferentes etapas ("Gozo e dor", "Este
inferno de amar", "Adeus"); exploram a ambivalência da figura feminina,
ora anjo, ora demónio ("Anjo és", "Não és tu"); percorrem a euforia
erótica ("Aquela noite", "Os cinco sentidos", "Flor de ventura"), o
ciúme ("Perfume da rosa", "A coroa"), a saudade da felicidade que não
voltará ("Cascais",
"Estes sítios").
Do ponto de vista métrico, o volume assinala o
abandono definitivo das formas e dos géneros clássicos em favor do uso
da tradicional redondilha em estrofes regulares. (daqui)
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