César Augusto Abbott (Pintor português, 1910-1977), Vista do Castelo de Guimarães
e Igreja de São Miguel, 1965.
[César
Augusto Abbott, filho do artista Tomás Abbott Costa, nasceu no Porto a 3
de Agosto de 1910. Desde os 6 meses viveu em Pedrouços, afeiçoando-se
assim, desde cedo, aos processos de viver e de sentir e aos modos de
estar das gentes da Maia.
Frequentou a Escola Superior de Belas Artes do Porto, onde teve como
mestres Acácio Lino e José de Brito, e bem assim a Escola de Mestre
Joaquim Lopes, no Salão Silva Porto.
Realizou a sua primeira Exposição aos 12 anos, no Salão da Santa Casa da
Misericórdia, juntamente com o seu pai. Depois, sucessivamente, expôs
por dezenas de vezes nos mais diversos salões: Sociedade Nacional de
Belas Artes, Ateneu Comercial do Porto, Comissão Municipal de Turismo de
Matosinhos, etc. Destacou-se pelos inúmeros trabalhos realizados em
aguarela e pelas ilustrações que fez para postais, livros infantis e
jogos. Na coleção de livros “A forminha” podem ser vistas alguns dos
seus trabalhos, assim como em jogos da antiga distribuidora de
brinquedos Majora. Faz parte do Clube Português de Aguarelistas e está
representado, entre outros, nos seguintes museus: Museu Nacional Soares
dos Reis, Museu Nacional de Lisboa, Museu Municipal de Coimbra, Museu de
Vouzela, Museu do Marco de Canavezes, Fórum da Maia, Comissão Municipal
de Turismo de Matosinhos, Governo civil e Câmara Municipal de Viseu,
etc. Muitas dezenas de trabalhos seus estão dispersos por diversas
coleções particulares do nosso país e do estrangeiro. César Abbott,
faleceu a 2 de Junho de 1977 em Pedrouços (daqui)]
O Castelo de Guimarães
(Ao Il.mo. e Ex.mo sr. Conde de Margaride)
Que foste tu, e que és, pobre castelo em ruínas?
Dantes eras o rei destas verdes campinas;
Desses velhos torreões e partidas ameias,
Hoje cobertas de hera, hoje de opróbrios cheias,
Ostentaram outrora os seus brios guerreiros
Junto do conde Henrique, os valentes besteiros;
Aí campeou também, impávido, brilhante
Como um sol alumiando esse tempo distante
Como nuvem de luz, nobre escudo real:
E as trombetas da guerra, em hino triunfal
Levantaram febris este heroico pregão:
“—Combate aos infiéis! Sangue! Destruição!”
E logo, como um mar colérico, endiabrado,
Vinham de toda a parte os servos do condado,
E em volta os barões poderosos, cruéis,
Marchavam por aí, de encontro aos infiéis!
E tu, sereno e rude, atlético, impassível,
Assistias então a uma peleja horrível,
Vendo de um lado e de outro as setas pelo ar,
As lanças dos peões além relampejar,
E o cavaleiro erguendo a espada para os céus…
Que foste tu e que és? Quais são os louros teus?
Das janelas onde hoje a hera seca se enleia,
Como uma secular, fortíssima cadeia,
Olharam muita vez para os largos horizontes,
Coroados de azul, recortados de montes,
E para a solidão das várzeas afastadas,
Pelo claro luar das noites consteladas,
Que é como que um sorriso ideal da Natureza,
—Olharam muita vez Trastâmara e Teresa,
Nessa união e amor das almas primitivas,
Límpidas como a lua e como a chama vivas.
Daí também outrora Afonso sonharia,
Seus sonhos, onde presa a alma lhe fugia
Por terras de infiéis, por castelos de Espanha,
A correr, a correr após de glória estranha...
Daí ele compôs a epopeia sagrada
Da Independência, — e o eco eterno dessa toada
Longínqua, sim, mas bela, escuta-se ainda agora
Em nossos corações, qual música sonora.
Daí lançou-se a um reino uma base feliz,
E acendeu-se o farol, guia deste país
Na conquista do mar buscando um reino novo,
E em tudo isso que faz que seja grande um povo!
Quantas vezes, ó noite, o teu manto lutuoso
Não surpreendeu o sonho a este rei glorioso?
Castelo! tu hoje és como um espectro, erguido
Nos abismos do tempo! O fantasma dorido!
Depósito fiel das lendas medievais,
Da fama dos barões, das vitórias feudais!
Coluna que se esvai ao vil sopro dos anos!
Baluarte talvez de sombrios tiranos!
Masmorra onde mais tarde a virtude penou
Sob os pés de um algoz!
Quem foi que te apagou?
Quem dessas triunfais ameias há riscado
O espírito que um dia as havia animado?
Que vã Filosofia ocultou tua glória,
Ó castelo esquecido e só vivo na História?
Ah! a Ideia é mais dura e firme que o granito!
Mais viril que o obelisco, onde o teu nome escrito
Campearia altivo, em sublime ovação!
Nada pode fugir à lei da Evolução.
Por isso a hera te envolve e uma nuvem pesada
Paira por sobre ti, muralha abandonada;
E tu és boje como um velho sem ventura,
Que tem um passo no ar e outro na sepultura!
Dantes eras o rei destas verdes campinas;
Desses velhos torreões e partidas ameias,
Hoje cobertas de hera, hoje de opróbrios cheias,
Ostentaram outrora os seus brios guerreiros
Junto do conde Henrique, os valentes besteiros;
Aí campeou também, impávido, brilhante
Como um sol alumiando esse tempo distante
Como nuvem de luz, nobre escudo real:
E as trombetas da guerra, em hino triunfal
Levantaram febris este heroico pregão:
“—Combate aos infiéis! Sangue! Destruição!”
E logo, como um mar colérico, endiabrado,
Vinham de toda a parte os servos do condado,
E em volta os barões poderosos, cruéis,
Marchavam por aí, de encontro aos infiéis!
E tu, sereno e rude, atlético, impassível,
Assistias então a uma peleja horrível,
Vendo de um lado e de outro as setas pelo ar,
As lanças dos peões além relampejar,
E o cavaleiro erguendo a espada para os céus…
Que foste tu e que és? Quais são os louros teus?
Das janelas onde hoje a hera seca se enleia,
Como uma secular, fortíssima cadeia,
Olharam muita vez para os largos horizontes,
Coroados de azul, recortados de montes,
E para a solidão das várzeas afastadas,
Pelo claro luar das noites consteladas,
Que é como que um sorriso ideal da Natureza,
—Olharam muita vez Trastâmara e Teresa,
Nessa união e amor das almas primitivas,
Límpidas como a lua e como a chama vivas.
Daí também outrora Afonso sonharia,
Seus sonhos, onde presa a alma lhe fugia
Por terras de infiéis, por castelos de Espanha,
A correr, a correr após de glória estranha...
Daí ele compôs a epopeia sagrada
Da Independência, — e o eco eterno dessa toada
Longínqua, sim, mas bela, escuta-se ainda agora
Em nossos corações, qual música sonora.
Daí lançou-se a um reino uma base feliz,
E acendeu-se o farol, guia deste país
Na conquista do mar buscando um reino novo,
E em tudo isso que faz que seja grande um povo!
Quantas vezes, ó noite, o teu manto lutuoso
Não surpreendeu o sonho a este rei glorioso?
Castelo! tu hoje és como um espectro, erguido
Nos abismos do tempo! O fantasma dorido!
Depósito fiel das lendas medievais,
Da fama dos barões, das vitórias feudais!
Coluna que se esvai ao vil sopro dos anos!
Baluarte talvez de sombrios tiranos!
Masmorra onde mais tarde a virtude penou
Sob os pés de um algoz!
Quem foi que te apagou?
Quem dessas triunfais ameias há riscado
O espírito que um dia as havia animado?
Que vã Filosofia ocultou tua glória,
Ó castelo esquecido e só vivo na História?
Ah! a Ideia é mais dura e firme que o granito!
Mais viril que o obelisco, onde o teu nome escrito
Campearia altivo, em sublime ovação!
Nada pode fugir à lei da Evolução.
Por isso a hera te envolve e uma nuvem pesada
Paira por sobre ti, muralha abandonada;
E tu és boje como um velho sem ventura,
Que tem um passo no ar e outro na sepultura!
J. Leite de Vasconcelos,
in Jornal Vimaranense 'Religião e Pátria',
José Leite de Vasconcelos
Filólogo
e um dos principais precursores da etnologia portuguesa, José Leite de
Vasconcelos nasceu em 1858, na freguesia de Ucanha (Tarouca). Apesar de ter revelado desde muito cedo uma especial vocação para o estudo dos costumes e hábitos dos povos, Leite de Vasconcelos
começou por estudar medicina, tendo-se formado na Faculdade do Porto em
1886. No entanto, dois anos mais tarde, depois de ter exercido funções
de subdelegado de saúde, médico municipal e presidente da Junta Escolar
no Cadaval, decide abandonar a carreira médica e dedicar-se
prioritariamente ao estudo das suas ciências prediletas: Linguística,
Arqueologia e Etnologia.
Em 1888 instala-se Lisboa onde começa por trabalhar como professor no Liceu Central. Nesse mesmo ano entra para a Biblioteca Nacional e uns meses mais tarde ocupa o cargo de Conservador, cargo esse que exerce até 1911. Entretanto, prossegue os seus estudos em Paris, tirando um curso de Filologia Românica (1889-1901).
Em 1893, cria e
dirige o Museu Etnográfico e no ano seguinte lança as revistas O
Arqueólogo Português (1884) e Revista Lusitana (1887). Paralelamente
ensina Filologia Clássica, Filologia Românica, Arqueologia e Epigrafia
na Faculdade de Letras de Lisboa. Em 1929 afasta-se da direção do Museu
que ajudara a criar, tornando-se seu diretor honorário. Morreu em 1941, com 83 anos de idade.
De formação positivista, profundamente marcado pelas ideias evolucionistas da época em que viveu, Leite de Vasconcelos contribui decisivamente para o desenvolvimento da Etnologia em Portugal, tendo publicado inúmeros trabalhos nesta área. Da sua vasta obra, destaca-se o seu monumental estudo "Etnografia Portuguesa", cujo primeiro volume foi publicado em 1933, e que representa um dos mais importantes trabalhos de investigação produzidos até hoje sobre a cultura e os costumes portugueses.
Algumas das obras mais importantes de Leite de Vasconcelos:
1881, Romances Populares portugueses
1881, Estudo ethnográfico a propósito da ornamentação dos jugos e cangas dos bois de Entre-Douro e Minho
1882, Amuletos populares portugueses
1882, O Dialeto Mirandês
1882, Tradições Populares de Portugal
1884, Museu Etnográfico Português
1890, Poesia Amorosa do Povo Português
1902, Poesia e Etnografia
1910, Ensaios Etnográficos
1913, Religiões da Lusitânia
1933, Etnografia Portuguesa
1938, Opúsculos (daqui)
1881, Estudo ethnográfico a propósito da ornamentação dos jugos e cangas dos bois de Entre-Douro e Minho
1882, Amuletos populares portugueses
1882, O Dialeto Mirandês
1882, Tradições Populares de Portugal
1884, Museu Etnográfico Português
1890, Poesia Amorosa do Povo Português
1902, Poesia e Etnografia
1910, Ensaios Etnográficos
1913, Religiões da Lusitânia
1933, Etnografia Portuguesa
1938, Opúsculos (daqui)
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