Charles Conder (English-born painter, lithographer and designer, 1868-1909),
The Orchard in Flower, oil on canvas.
The Orchard in Flower, oil on canvas.
As recordações olham para mim
Uma manhã de junho quando ainda é cedo para acordar
mas demasiado tarde para voltar a pegar no sono.
Embrenho-me pelo arvoredo repleto de recordações
e elas seguem-me com os seus olhares.
Autênticos camaleões, elas não se mostram,
diluem-se literalmente no cenário.
E embora o gorjeio dos pássaros seja ensurdecedor,
estão tão perto de mim que ouço como respiram.
Tomas Tranströmer, 50 Poemas,
mas demasiado tarde para voltar a pegar no sono.
Embrenho-me pelo arvoredo repleto de recordações
e elas seguem-me com os seus olhares.
Autênticos camaleões, elas não se mostram,
diluem-se literalmente no cenário.
E embora o gorjeio dos pássaros seja ensurdecedor,
estão tão perto de mim que ouço como respiram.
Tomas Tranströmer, 50 Poemas,
Relógio d’Água Editores, Lisboa, 2012.
Tradução de Alexandre Pastor
Tradução de Alexandre Pastor
Tomas Tranströmer, 50 Poemas
Relógio d’Água Editores
Tomas Tranströmer
Prémio Nobel de Literatura 2011
Tomas Tranströmer nasceu a 15 de abril de 1931 em Estocolmo, cidade onde também se licenciou em Psicologia em 1956. Começou a escrever poesia muito jovem e publicou os primeiros poemas em 1954. A sua poesia inspira-se na metafísica ocidental, na tradição japonesa do haiku, e nas grandes obras clássicas que pensam e questionam a condição humana, a morte e a memória. A estes temas o poeta acrescenta múltiplas referências à sua intimidade, ao gosto pela música e pelas viagens, a botânica, a entomologia, entre outros temas.
Em 1990 Tomas Tranströmer sofreu um AVC, estando impedido de falar desde então. Não perdeu, no entanto, a capacidade de escrever. Alguns dos seus livros foram publicados já depois deste problema de saúde.
Ao longo da sua carreira recebeu inúmeros prémios, entre os quais: Prémio Bonnier de Poesia, o Prémio Internacional Neustadt de Literatura, o Prémio Oevalids, o Prémio Petrarca, o Prémio do Fórum Internacional de Poesia e o Prémio Griffin. Em 2011 a Academia Sueca entregou-lhe o Prémio Nobel da Literatura. A sua obra está traduzida em todo o mundo. Faleceu a 26 de março de 2015. (daqui)
Poemas haikai
Os fios elétricos
estendidos por onde o frio reina
Ao norte de toda música.
O sol branco
treina correndo solitário para
a montanha azul da morte.
Temos que viver
com a relva pequena
e o riso dos porões
Agora o sol se deita.
sombras se levantam gigantescas.
Logo logo tudo é sombra.
As orquídeas.
Petroleiros passam deslizando.
É lua cheia.
Fortalezas medievais,
cidades desconhecidas, esfinges frias,
arenas vazias.
As folhas cochicham:
Um javali está tocando órgão.
E os sinos batem.
E a noite se desloca
de leste para oeste
na velocidade da lua.
Duas libélulas
agarradas uma na outra
passam e se vão.
Presença de Deus.
No túnel do canto do pássaro
uma porta fechada se abre.
Carvalhos e a lua.
Luz e imagem de estrelas salientes.
O mar gelado.
Tomas Tranströmer,
"Poemas haikai", coleção "Poesia Sempre".
Tradução de Marta Manhães de Andrade.
estendidos por onde o frio reina
Ao norte de toda música.
O sol branco
treina correndo solitário para
a montanha azul da morte.
Temos que viver
com a relva pequena
e o riso dos porões
Agora o sol se deita.
sombras se levantam gigantescas.
Logo logo tudo é sombra.
As orquídeas.
Petroleiros passam deslizando.
É lua cheia.
Fortalezas medievais,
cidades desconhecidas, esfinges frias,
arenas vazias.
As folhas cochicham:
Um javali está tocando órgão.
E os sinos batem.
E a noite se desloca
de leste para oeste
na velocidade da lua.
Duas libélulas
agarradas uma na outra
passam e se vão.
Presença de Deus.
No túnel do canto do pássaro
uma porta fechada se abre.
Carvalhos e a lua.
Luz e imagem de estrelas salientes.
O mar gelado.
Tomas Tranströmer,
"Poemas haikai", coleção "Poesia Sempre".
Tradução de Marta Manhães de Andrade.
Sem comentários:
Enviar um comentário