Cruzeiro Seixas (Poeta e pintor surrealista português, 1920-2020), "A fábrica dos Espelhos", 2009.
Logo que te deixo
Logo que te deixo
há um rio que corre ao teu lado veemente
e da outra margem
os diabos com as suas lanternas
falam da infância submersa
no além.
Daqui até à linha do horizonte
as marés embalam maternalmente os mortos
e o seu canto
arrasta as góticas catedrais até ao mar
onde flutuam e vão
com cornos de ouro
e hélices que espadanam mil diamantes.
Por toda a parte há sonhos
a empurrar outros sonhos
para o abismo.
A magia do espelho quebrado
é uma longuíssima viagem
sem regresso.
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