Aelbert Cuyp (Dutch Golden Age artist, 1620–1691), Avenue at Meerdervoort, c. 1650 -1652,
Versos escritos da margem dum missal
Bem pode ser que nossos pés doridos
Vão errados na senda tortuosa,
Que o pensamento segue nos desertos,
Na viagem da Ideia trabalhosa...
Que a árvore da Ciência, sacudida
Com força, jamais deite sobre o chão,
Aos pés dos tristes que ali estão ansiosos,
Mais do que o fruto negro da ilusão...
Que o livro do Destino esteja escrito
Sobre folhas de lava, em letra ardente,
E não chegue a fitá-lo o olho humano
Sem que ofusque e cegue de repente...
Pode ser que, na luta tenebrosa
Que este século move sob o céu,
Venha a faltar-lhe o ar, por fim, faltando-lhe
A terra sob os pés, bem como Anteu...
Que do sangue espalhado nos combates,
E do pranto que cai da triste lira,
No árido chão da esperança humana
Mais não nasça que a urze da mentira...
Que o mistério da vida a nossos olhos
Se torne dia a dia mais escuro,
E no muro de bronze do Destino
Se quebre a fronte sem que ceda o muro...
Que o pensamento seja só orgulho,
E a ciência um sarcasmo da verdade,
E nosso coração louco vidente,
E nossas esperanças só vaidade...
E nossa luta, vã! talvez que o seja!
Cego andará o homem cada vez
Que vê o céu um astro! e os passos dele
Errados pelo mundo irão, talvez!
Mas, ó vós que pregais descanso inerte
No seio maternal da ignorância,
E condenais a luta, e dás ao homem
Por seu consolo o dormitar da infância;
Apóstolos da crença... na inércia...
Vós que tendes da Fé o ministério
E sois reveladores, dando ao mundo
Em lugar de um mistério... outro mistério;
Se quanto o Universo tem no seio,
E quanto o homem tem no coração,
O olhar que vê e a alma que adivinha,
O pensar grave e a ardente intuição,
Se nada em terra e céu pode ensinar-nos
Do fado humano o imortal segredo,
Nem os livros profundos da ciência,
Nem as profundas sombras do arvoredo,
Se não há mão audaz que possa erguê-lo
O tenebroso véu do Bem e Mal...
Se ninguém nos explica este mistério...
Também o não dirá nenhum missal!
Antero de Quental, in Odes Modernas, 1865
"Uma vida não questionada não merece ser vivida."
Platão (Filósofo grego, no século IV a.C.), in a "A República" (daqui)
Platão (Filósofo grego, no século IV a.C.), in a "A República" (daqui)
Aebert Cuyp, The Negro Page, c. 1652, Royal Collection
"O corpo humano é a carruagem, eu, o homem que a conduz, os pensamentos as rédeas, os sentimentos são os cavalos."
"O corpo humano é a carruagem, eu, o homem que a conduz, os pensamentos as rédeas, os sentimentos são os cavalos."
Aebert Cuyp (Dutch Golden Age artist, 1620–1691), Equestrian Portrait of Cornelis (1639–1680)
and Michiel Pompe van Meerdervoort (1638–1653) with Their Tutor and Coachman, ca. 1652–53.
Metropolitan Museum of Art, New York
and Michiel Pompe van Meerdervoort (1638–1653) with Their Tutor and Coachman, ca. 1652–53.
Metropolitan Museum of Art, New York
O filósofo observa e medita. É um espelho que pensa."
Guerra Junqueiro, "Prosas dispersas" - Página 92,
Publicado por Lello & Irmão, 1926 - 169 páginasGuerra Junqueiro, "Prosas dispersas" - Página 92,
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