terça-feira, 14 de novembro de 2023

"Soneto Azul" - Poema de Mário Quintana


Akseli Gallen-Kallela (Finnish painter, 1865-1931), 
Mary Sewing on the Veranda of Kalela, 1897.
 


Soneto Azul 

 
Quando desperto mansamente agora
é toda um sonho azul minha janela
e nela ficam presos estes olhos,
amando-te no céu que faz lá fora.

Tu me sorris em tudo, misteriosa...
e a rua que – tal como outrora – desço,
a velha rua, eu mal a reconheço
em sua graça de menina-moça...

Riso na boca e vento no cabelo,
delas vem vindo um bando... E ao vê-lo
por um acaso olha-me a mais bela.

Sabes, eu amo-te a perder de vista...
e bebo, então, com uma saudade louca,
teu grande olhar azul nos olhos dela!


Mário Quintana,
"Baú de Espantos" – Editora Globo, RJ, 1988
 
 
Akseli Gallen-Kallela, Black Woodpecker, 1894
 

"Não esquecer que as nuvens estão improvisando sempre, mas a culpa é do vento."
 
Mário Quintana, in "Sapato Florido"

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