sábado, 26 de abril de 2025

"Ainda te levarei" - Poema de Marina Colasanti


Joris van Son (Flemish painter, 1623-1667), Pronk Still Life with Fruit in a Wan-Li Porcelain Bowl,
with a Herring on a pewter Plate, a Bread Roll, Onions, a Crab and Shrimps on a Table
and a Vanitas Still Life with a Skull in a Niche,
c. 1651.


Ainda te levarei 
 

Ainda te levarei
amor
para comer nozes frescas
na montanha
e pendurar cerejas nas orelhas
como se fossem flores
ou rubis.

As nozes
meu amor
mancham os dedos
e são verdes e exatas
como ovos
mas as cerejas
ah! as cerejas
são quando a cerejeira sua
seu manso sangue.

Ainda te levarei àquela casa
onde floriam lilases
e serpentes tão claras quanto água
deslizavam ao pé das macieiras.
Te mostrarei três lagos
no horizonte
três queijos maturando
numa adega
três lesmas
escondidas sob um vaso.
Estará tudo lá
à nossa espera
morangueiras quebradas
lagartixas.

Só não estará meu medo
de menina
aquele mais escuro que os ciprestes
ecos no mato passos sobre a ponte
garras na saia vento nos cabelos
e o latejar das veias repetindo
estou sozinha
e ninguém me salva.


Marina Colasanti
, Gargantas Abertas, 1998.
 

 
Joris van Son, Sumptuous Still Life with Overturned Silver Ewer, c. 1660.


"O objetivo da nossa bonita arte não é a imitação, mas a criação."

Ralph Waldo Emerson
 
 

Sem comentários: