domingo, 20 de abril de 2025

"Páscoa no Minho" - Poema de António Manuel Couto Viana



Auguste Roquemont (Pintor luso-suíço da época romântica. 1804-1852), Visita Pascal, 1840.

[O quadro "Visita Pascal" de Auguste Roquemont, artista romântico radicado em Portugal desde 1828, retrata a tradicional visita do Compasso no Domingo de Páscoa, a uma casa rústica de uma aldeia minhota, e foi oferecido pelo pintor ao seu amigo escocês Joseph James Forrester, prestigiado negociante de vinho do Porto, que acabaria por morrer afogado no rio Douro. Roquemont viria a influenciar uma geração de artistas românticos portugueses, tendo sido mestre de Francisco José Resende.]
 
 

Páscoa no Minho


É tempo de Páscoa no Minho florido.
Já se ouvem os trinos dos sinos festeiros
Na igreja vestida de branco vestido,
Entre o verde manso dos altos pinheiros.

Caminhos de aldeia, que o funcho recobre,
Esperam, cheirosos, que passe o “compasso”,
À casa do rico, cabana do pobre…
Já voam foguetes e pombas no espaço!

Lá vêm dois meninos, com opas vermelhas,
Tocando a sineta. Logo atrás, o abade
Já trôpego e lento. (As pernas são velhas?
Mas no seu sorriso tudo é mocidade.)

Com que unção o moço sacristão, nos braços
Traz a cruz de prata que Jesus cativa,
Para ser beijada! Enfeitam-na laços
De fitas de seda e uma rosa viva.

Um outro, ajoujado ao peso das prendas
(Não há quem não tenha seu pouco para dar…)
Traz, num largo cesto de nevadas rendas,
Os ovos, o açúcar e os pães do folar.

Mais um outro, ainda, de hissope e caldeira
Cheia de água benta, abre um guarda-sol.
Seguem-nos, e alegram céus e terra inteira,
Estrondos de bombos e gaitas de fole.

Haverá visita mais honrosa e bela?
Famílias ajoelham. A cruz é beijada.
(Pratos de arroz-doce, com flores de canela,
Aguardam gulosos na mesa enfeitada.)

Santa Aleluia! Oh, festa maior!
Haverá mais bela e honrosa visita?
É tempo de Páscoa. O Minho está em flor.
Em cada alma pura Jesus ressuscita!


António Manuel Couto Viana

 

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