segunda-feira, 25 de agosto de 2025

"O mundo parou" - Poema de Anthero Monteiro

 

Thomas Edwin Mostyn (English artist, 1864–1930), Anstey's Cove, Devon.



O mundo parou


repentinamente o mundo para de girar
não tarda nada vou ser projetado no espaço
o vento é uma asa congelada as nuvens carros avariados
o mar não mexe os barcos pasmaram

não há qualquer indício de ti
habitas decerto outro planeta
ou o cárcere longínquo de uma torre vigiada
caíste num pego sem fundo
perdeste a direção o sentido os sentidos se não a própria vida
um raio caiu entre nós olhamo-nos como pedras
a lava de um vulcão envolveu-nos para sempre
um silêncio inaudito brada na via láctea

por favor mexe um dedo a ver se tudo recomeça
por favor pestaneja para que o ar se mova
por favor inventa um sorriso para tudo descongelar
por favor põe os teus cabelos a fabricar mais volutas
para que essas espirais sejam o ovo de um ciclone
o olho de um furacão o eclodir de uma grande catástrofe

sim é urgente uma grande catástrofe
porque é preciso recomeçar tudo de novo
mais que soldar o eixo do planeta
impõe-se colar a recordação à realidade
e porem-nos a girar lado a lado
na mesma órbita


Anthero Monteiro
in Sulcos da Memória e do Esquecimento,
Porto, Corpos Editora, 2013.

 


Thomas Edwin MostynA walk in the park.


"Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e levantarei o mundo".

(Arquimedes)


Domenico Fetti (Pintor barroco italiano, 1589-1623),
Arquimedes pensativo, 1620.
 

Arquimedes foi um matemático e físico grego (c. 287 a. C.  212 a. C.). Nasceu em Siracusa e foi assassinado pelos Romanos, quando estes conquistaram a cidade. Foi considerado um dos maiores sábios da Antiguidade, tendo sido o autor de uma enorme quantidade de invenções mecânicas e de engenhos de guerra. Ficou célebre pelo princípio que formulou, segundo o qual "todo o corpo submergido num fluido experimenta um impulso de baixo para cima, igual ao peso do fluido por ele deslocado", e que permite determinar o peso específico dos corpos. (daqui)

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