
Vittorio Matteo Corcos (Italian painter, 1859–1933),
In the garden (Nel giardino), 1892.
Senhora, porque me deixas?
Senhora, porque me deixas,
Quando eu te não deixei?
Se me deixas, minhas queixas
A quem é que eu as farei?
Senhora do meu deserto,
Com alegria, ou tristeza,
Mostra o caminho mais certo
À minha grande incerteza.
Que a tua boca me diga
Segredos, intimidades.
Que a tua voz seja amiga
De quem não tem amizades.
Porque me deixas, senhora,
Depois de ver-te a meu lado?
Em vez disso melhor fora
Nunca te haver encontrado.
Senhora porque me deixas
Com o teu perfil esguio?
Se me deixas, minhas queixas
A quem é que eu as confio?
Alfredo Brochado, in "Bosque Sagrado"
Alfredo Brochado
[Amarante, 1897 - Lisboa, 1949]
Estudou
em Coimbra, onde se licenciou em Direito, e, embora com retornos
irregulares a Amarante, fixou-se em Lisboa, primeiro como funcionário
superior do Tribunal de Contas, depois como chefe de secretaria da
Procuradoria-Geral da República. Frágil, introvertido, doentiamente
instável, viu agravarem-se as crises neurasténicas na década de 40 e
acabou no suicídio porventura precedido de enlouquecimento.
Constante,
nele, só o gosto da criação poética, seguindo a convicção espontaneísta
que confidenciava: «Aconteceu-me hoje este poema!» (testemunho de
Augusto d'Esaguy). Daí que, além de ter sido redator da revista
literária Gazeta dos Caminhos de Ferro, dispersasse colaboração por vários jornais e revistas, como Flor do Tâmega, A Águia, Semana Portuguesa, Seara Nova, Diário de Lisboa, Diário Popular, O Primeiro de Janeiro, República, etc.
Por 1920 aparece associado às iniciativas literárias de Coimbra, sendo um dos fundadores da Ícaro e colaborador de A Tradição. Em 1921 publica a «ode» neo-romântica O Sangue dos Heróis, recitada em Amarante, e começa a enviar poemas à Águia. Os poemas dispersos foram parcialmente coligidos no livro póstumo Bosque Sagrado (Lisboa, 1949); um ano depois, o volume coletivo Leonardo Coimbra. Testemunhos dos Seus Contemporâneos inseria um breve depoimento seu «A última vez que vi L. C.»; e em 1952, graças a Zur-Aida Esaguy, foi editado um texto juvenil à maneira de Maeterlinck, «Diálogo antigo», entre o quadro dramático e o poema em prosa.
Conterrâneo de Pascoaes, este logo o inclui, em Os Poetas Lusíadas, entre as promessas do período neo-sebastianista, e, mais tarde, prefaciando Bosque Sagrado, não se coíbe de considerar que Brochado pertence ao número dos autênticos poetas cujo destino é «verbalizar o inefável». Mas é equívoca a aproximação entre a poesia de Pascoaes ou o saudosismo e a obra incerta de Brochado. O próprio poeta, em textos como «Imperfeição», denuncia a condição dúplice de matriz romântico-decadentista e que, tendo embora por horizonte ideal outra poesia visionária, não se ilude quanto à distância a que dela se queda. Pela idiossincrasia, pelo destino, pela temática e pela imagística depressivas da sua poesia, bem o podemos situar, como A. d'Esaguy, na linhagem de José Duro, Costa Alegre, M. Laranjeira...
Por 1920 aparece associado às iniciativas literárias de Coimbra, sendo um dos fundadores da Ícaro e colaborador de A Tradição. Em 1921 publica a «ode» neo-romântica O Sangue dos Heróis, recitada em Amarante, e começa a enviar poemas à Águia. Os poemas dispersos foram parcialmente coligidos no livro póstumo Bosque Sagrado (Lisboa, 1949); um ano depois, o volume coletivo Leonardo Coimbra. Testemunhos dos Seus Contemporâneos inseria um breve depoimento seu «A última vez que vi L. C.»; e em 1952, graças a Zur-Aida Esaguy, foi editado um texto juvenil à maneira de Maeterlinck, «Diálogo antigo», entre o quadro dramático e o poema em prosa.
Conterrâneo de Pascoaes, este logo o inclui, em Os Poetas Lusíadas, entre as promessas do período neo-sebastianista, e, mais tarde, prefaciando Bosque Sagrado, não se coíbe de considerar que Brochado pertence ao número dos autênticos poetas cujo destino é «verbalizar o inefável». Mas é equívoca a aproximação entre a poesia de Pascoaes ou o saudosismo e a obra incerta de Brochado. O próprio poeta, em textos como «Imperfeição», denuncia a condição dúplice de matriz romântico-decadentista e que, tendo embora por horizonte ideal outra poesia visionária, não se ilude quanto à distância a que dela se queda. Pela idiossincrasia, pelo destino, pela temática e pela imagística depressivas da sua poesia, bem o podemos situar, como A. d'Esaguy, na linhagem de José Duro, Costa Alegre, M. Laranjeira...

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