Sir Walter Westley Russell (British painter and art teacher, 1867‑1949), Cordelia, 1930.
A Luz do teu Amor
Oh! Sim que és linda! a inocência
Em tua fronte serena
Com tal doçura reluz!...
Tanta e tanta... que a açucena
Tão esplêndida a existência
Não lha doura assim à luz!
Oh! que és linda, e mais... e mais
Quando um traço melancólico
Te diviso no semblante
Nos teus olhos virginais!
Que doçura não existe
Ai! ó virgem, nesse instante
Na poética beleza
Desse traço de tristeza
Que te vem tornar mais bela
Mal em teu rosto pousou!
E eu te quero assim, ó estrela,
Que se inspira em mim a crença
Triste... triste, que és mais linda,
Mas dessa beleza infinda
Das ficções da renascença
Que a poesia perfumou!
Fita agora os olhos lânguidos
Na estrela que te ilumina,
Eu não sei que luz divina
De amor nos fala em teu rosto!
Eu não sei, nem tu... ninguém!...
Que a vaga luz do sol posto,
Que a palidez da cecém,
Que a meiguice dos amores,
E que o perfume das flores
Não respiram a harmonia
Desse toque leve... leve
Do mais puro sentimento,
Da mais suave ilusão!
As flores leva-as o vento;
Mas a divinal poesia
Que em teu peito se alimenta
Não a desfaz a tormenta,
Nem a consome o vulcão!
E assim! - Lembra-me ainda
Aquele instante suave!
Havia paixão infinda
No terno gorjeio da ave
Que ao longe... ao longe se ouvia
Ressoar na laranjeira!
Assim foi... assim tão pálida
Que eu te vi a vez primeira
Naquele instante sem par!
Sim! Oh! se a alma do poeta
É como a ardência do mar,
Que se calma e se aquieta
À luz que baixa dos céus;
Eu por ti surgi, ó bela,
O cantor daquela estrela
Que fulge lá no horizonte,
Que me voa a vida em êxtase
Quando sobre a minha fronte
Cai a luz dos olhos teus!
E se o passado foi triste
Sepultei-o num abismo,
E esqueci ao magnetismo
Da tua doce expressão
O gemer da tempestade,
Mais o ralar da ansiedade
Daqueles dias de então!
Se já viste mesmo em sonhos
Ressurgir graciosa e bela
De entre os negrumes da noite
A doce imagem da estrela
Que sorri ao turvo mar;
Faz ideia de minha alma
Que em deserto triste e infindo
Vivia sem uma palma,
E que, um dia... um dia lindo,
Surge à luz do teu olhar!
E depois a melancolia,
Aquela doce cadência
Que tinhas então na fala,
Tão suave como a essência
Que somente a flor exala,
Tudo... tudo me prendeu!
E hoje elevo as mãos ao céu,
E bendigo aquele instante
em que vi a tua imagem
de vaga luz radiante,
Embora seja a miragem
Que na aridez do deserto
Um instante nos fulgura,
E que, ora longe, ora perto,
Bem pouco... bem pouco dura!
Não negues um dia alento
Aos débeis sopros de vida
Que em mim pululam agora
Com mais força e mais calor!
Se vives da luz da aurora
Que à vida te diz bonança,
Eu só vivo da esperança
E da luz do teu amor!
Guilherme de Azevedo,
in 'Antologia Poética'
Guilherme de Azevedo retratado
Guilherme Avelino Chaves de Azevedo (Santarém, 30 de Novembro de 1839 - Paris, 6 de Abril de 1882) foi um jornalista e poeta português.
Ligado à "Geração de 70", foi um dos representantes da poesia revolucionária introduzida no país por Antero de Quental ("Odes Modernas", 1865), tendo ainda recebido influências dos franceses Vitor Hugo e Charles Baudelaire.
Filho de um escrivão das Finanças, desde a infância mostrou-se fisicamente débil, como resultado de uma queda que o fez coxo e lhe provocou uma lesão de que viria a morrer prematuramente aos quarenta e dois anos de idade. Viveu, por essa razão, obcecado por esconder os seus males físicos.
Em 1871 fundou em Santarém o periódico "O Alfageme", primeiro momento da sua carreira jornalística e onde defendeu, com escândalo no país à época, as ideias revolucionárias da Comuna de Paris.
Após o falecimento do pai, instalou-se em Lisboa, onde abraçou definitivamente o jornalismo, profissão na qual atingiu posição relevante. Trabalhou nos periódicos "Diário da Manhã", "O Pimpão" e em "A Lanterna Mágica". Colaborou no "Primeiro de Janeiro" com um folhetim semanal, bem como no jornal O Panorama (1837-1868) e nas revistas A Mulher (1879), Ribaltas e gambiarras (1881) e Jornal de Domingo (1881-1883), e ainda na imprensa brasileira.
Como poeta, foi um autor representativo, abordando temas modernos numa escrita de índole épico-social. Publicou os primeiros versos no "Almanaque de Lembranças" de 1864, sob o pseudónimo de "G. Chaves", vindo a colaborar posteriormente em vários periódicos, como o "Comércio de Lisboa", a "Revolução de Setembro" e a "Gazeta do Dia", onde, em parceria com Guerra Junqueiro, manteve as crónicas humorísticas da rubrica "Ziguezagues".
Fundou o O António Maria em 1879 com Rafael Bordalo Pinheiro, e, ainda ao lado deste, dirigiu e colaborou no "Álbum das Glórias". No mesmo ano, novamente com Guerra Junqueiro, redigiu a sátira teatral "Viagem à roda da Parvónia", que seria pateada e proibida, mas que Ramalho Ortigão considerou uma "fiel pintura dos costumes constitucionais" do país à época.
Em 1880, em consequência da fama conquistada como cronista mundano e político, o periódico carioca "Gazeta de Notícias" nomeou-o seu correspondente em Paris, função que desempenhou nos dois últimos anos da sua vida.
As suas poesias, reunidas nas três coletâneas "Aparições" (1867), "Radiações da Noite" (1871) e "Alma Nova" (1874), encarnam o novo realismo satírico de inspiração baudelairiana no país.
Com o pseudónimo "João Rialto" deixou vários escritos com elevado humorismo. (Daqui)
Galeria de Walter Westley Russell
Walter Westley Russell, Camilla
"Do primeiro amor gosta-se mais, dos outros gosta-se melhor."
(Antoine de Saint-Exupéry)
Sir Walter Russell, Tying her shoe
"A medida do amor é amar sem medida."
(Victor Hugo)
Sir Walter Russell, Portrait of a Lady
"Quando somos amados, não duvidamos de nada. Quando amamos, duvidamos de tudo."
(Sidonie Colette)
Sir Walter Russell, The Morning Room
"Gosto desta ideia: que o amor é uma forma de conversação em que as palavras agem em vez de serem faladas."
(David Lawrence, O Amante de Lady Cnatterly)
Sir Walter Russell, Alice, 1926
"Muito pouco ama, quem com palavras pode expressar quanto muito ama."
(Dante Alighieri)
Sir Walter Russell, Alderman Robert Styring, Lord Mayor of Sheffield, 1906
"Um homem tem sempre medo de uma mulher que o ame muito."
(Bertolt Brecht, A Ópera dos Três Vinténs)
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