segunda-feira, 20 de agosto de 2018

"Deus abençoe a América" - Poema de Harold Pinter


George LuksArmistice Night, 1918. Whitney Museum of American Art



Deus abençoe a América


Lá vão eles outra vez,
Os Ianques e as suas blindadas paradas
Entoando as suas baladas de alegria
A galope pelo vasto mundo
Louvando o Deus da América.

As sarjetas estão entupidas de mortos
Dos que não puderam alistar-se
Dos outros que se recusam a cantar
Dos que estão a perder a voz
Dos que esqueceram a música.

Os cavaleiros têm chicotes que ferem.
A tua cabeça rola para a areia
A tua cabeça é uma poça no lixo
A tua cabeça é uma nódoa no pó

Os teus olhos apagaram-se e o teu nariz
Fareja apenas o fedor dos mortos
E todo o ar morto está vivo
Com o cheiro do Deus da América.


Tradução de Pedro Marques, Jorge Silva Melo e Francisco Frazão,
 Quasi Edições, Junho 2003


Harold Pinter, 1992, by Justin Mortimer (b.1970)


(Harold Pinter foi laureado com o Nobel de Literatura em 2005.) 


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