quinta-feira, 16 de agosto de 2018

"Soneto de separação" - Poema de Vinicius de Moraes

SONETO DE SEPARAÇÃO
Inglaterra, 1938

De repente do riso fez-se o pranto 
Silencioso e branco como a bruma 
E das bocas unidas fez-se a espuma 
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. 

De repente da calma fez-se o vento 
Que dos olhos desfez a última chama 
E da paixão fez-se o pressentimento 
E do momento imóvel fez-se o drama. 

De repente, não mais que de repente 
Fez-se de triste o que se fez amante 
E de sozinho o que se fez contente. 

Fez-se do amigo próximo o distante 
Fez-se da vida uma aventura errante 
De repente, não mais que de repente.


Vinicius de Moraes
[Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot,
 a caminho da Inglaterra, setembro de 1938]


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