Leonid Afremov, Under my umbrella
Chuva da tarde
Chuva da tarde, – melodia mansa,
desejos vagos de chorar baixinho...
Voltei aos meus caprichos de criança,
- só quero, Amor, saber do teu carinho!
Chuva da tarde... Na poeira ardente
cai um frescor inesperado e calmo.
É um frescor que purifica a gente
- como a leitura mística dum Salmo!
Floresçam jasmineiros e açucenas,
- acuda-se à tristeza das raízes!
Que tu, Amor, com tuas mãos pequenas,
as guardes da estiagem e as batizes!
Meu coração doente remoçou-se,
quando o tocaram essas mãos piedosas...
Chuva da tarde, – enfermaria doce,
onde vão convalescer as rosas!
Chuva da tarde... Ao longo das varandas
reza mistérios lentos a noitinha.
Que bem não é sonhar em coisas brandas,
nas tuas brandas asas de andorinha!
Deixa que a sombra te emoldure a face,
- eleva no silêncio a tua voz!
O Cântico dos Cânticos renasce,
- diria até que se escreveu p'ra nós!
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