Francis Cadell, Cassis, c. 1914
Perdoa-me, língua materna,
tu, que me deste à luz,
recebeste tão pouco.
Em vez de ficar do teu lado,
fazer-te os saborosos pratos de poesia,
proteger dos bárbaros,
multiplicar o património,
fui nascer outra vez,
da outra,
e fiquei
longe de casa,
numa luz diferente
das outras estrelas.
Sei que jamais
pretendeste ser a única
a dar-me à luz,
que os meus irmãos
cuidam bem de ti,
que já me perdoaste,
e que guardas
as mais doces palavras
para cada encontro nosso.
Perdoa, perdoa sempre
a teu filho,
nem fiel,
nem pródigo.
Henryk Siewierski
só serve até a fronteira
desse ventre em que ninguém
mais que uma vida aguenta.
Como o corte é inevitável
e a tesoura não falha,
é bom aprender uma outra língua
para não começar tudo de nada.
Henryk Siewierski
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