segunda-feira, 26 de novembro de 2018

"A Rua dos Cataventos" - Soneto XIX de Mário Quintana

Alfred Sisley, Le Pont de Moret, effet d'orage, 1887,
 Musée Malraux, Le Havre, France


XIX


Minha morte nasceu quando eu nasci. 
Despertou, balbuciou, cresceu comigo...
E dançamos de roda ao luar amigo
Na pequena rua em que vivi.

Já não tem mais aquele jeito antigo
De rir e que, ai de mim, também perdi!
Mas inda agora a estou sentindo aqui,
Grave a boa, a escutar o que lhe digo:

Tu que és minha doce Prometida,
Nem sei quando serão as nossas bodas,
Se hoje mesmo... ou no fim de longa vida...

E as horas lá se vão, loucas ou tristes...
Mas é tão bom, em meio às horas todas,
Pensar em ti... saber que tu existes! 


Mário Quintana,
 in A Rua dos Cataventos, 1940. 


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