Albert Lynch (Parisian painter of German-Peruvian ancestry, 1860–1950),
"A young beauty", oil on panel.
Primeira tarde
Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela
Maldosamente, perto, perto.
Quase desnuda, na cadeira,
Cruzavas as mãos, e os pequeninos
Pés esfregava na madeira
Do chão, libertos finos, finos.
— Eu via pálido, indeciso,
Um raiozinho em seu gazeio
Borboletear em seu sorriso
— Mosca na rosa — e no seu seio.
— Beijei-lhe então os tornozelos.
Deu ela um riso inatural
Que se esfolhou em ritornelos,
Um belo riso de cristal.
Depressa, os pés na camisola
Logo escondeu: "Queres parar!"
Primeira audácia que se implora
E o riso finge castigar!
Sinto-lhe os olhos palpitantes
Sob os meus lábios. Sem demora,
Num de seus gestos petulantes,
Volta a cabeça: "Ora, esta agora!..."
"Escuta aqui que vou dizer-te..."
Mas eu lhe aplico junto ao seio
Um beijo enorme, que a diverte
Fazendo-a rir agora em cheio...
— Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela
Maldosamente, perto, perto.
Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela
Maldosamente, perto, perto.
Quase desnuda, na cadeira,
Cruzavas as mãos, e os pequeninos
Pés esfregava na madeira
Do chão, libertos finos, finos.
— Eu via pálido, indeciso,
Um raiozinho em seu gazeio
Borboletear em seu sorriso
— Mosca na rosa — e no seu seio.
— Beijei-lhe então os tornozelos.
Deu ela um riso inatural
Que se esfolhou em ritornelos,
Um belo riso de cristal.
Depressa, os pés na camisola
Logo escondeu: "Queres parar!"
Primeira audácia que se implora
E o riso finge castigar!
Sinto-lhe os olhos palpitantes
Sob os meus lábios. Sem demora,
Num de seus gestos petulantes,
Volta a cabeça: "Ora, esta agora!..."
"Escuta aqui que vou dizer-te..."
Mas eu lhe aplico junto ao seio
Um beijo enorme, que a diverte
Fazendo-a rir agora em cheio...
— Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela
Maldosamente, perto, perto.
Arthur Rimbaud
Trad. Ivo Barroso
Poeta
francês, de nome completo Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud, nasceu a 20 de
outubro de 1854 em Charleville, nas Ardenas. O pai, soldado tarimbeiro,
abandonou a família quando Arthur contava seis anos de idade, pelo que
foi educado apenas pela mãe, uma criatura autoritária e profundamente
religiosa.
Frequentando a escola de província até aos quinze anos de idade, Rimbaud mostrou-se um aluno de capacidades excecionais mas indomáveis. Partindo da sua Paris natal, conseguiu atingir a Bélgica aos dezasseis, o que lhe valeu escolta policial até casa.
Publicou nesse ano de 1870 o seu primeiro poema e, no seguinte, conhecendo Verlaine, desencaminhou-o da sua condição de homem de família, frustrado no absinto, e juntos chegaram a Londres, para dar início a uma vida de álcool e drogas. Publicou o seu primeiro livro, Le Bâteau Ivre em 1871.
Frequentando a escola de província até aos quinze anos de idade, Rimbaud mostrou-se um aluno de capacidades excecionais mas indomáveis. Partindo da sua Paris natal, conseguiu atingir a Bélgica aos dezasseis, o que lhe valeu escolta policial até casa.
Publicou nesse ano de 1870 o seu primeiro poema e, no seguinte, conhecendo Verlaine, desencaminhou-o da sua condição de homem de família, frustrado no absinto, e juntos chegaram a Londres, para dar início a uma vida de álcool e drogas. Publicou o seu primeiro livro, Le Bâteau Ivre em 1871.
Em 1874 partiu de novo para Londres, e na Biblioteca Nacional Britânica foi-lhe interdita a leitura das obras de Sade, por não ter atingido a maioridade de vinte e um anos.
A partir de 1875 recomeçou a sua vida deambulante, aprendendo uma série de idiomas, como o Alemão, o Italiano, o Grego e o Árabe, entre muitos outros. Trabalhou como professor na Alemanha, estivador no porto de Marselha e, alistando-se no exército holandês, acabou por desertar no arquipélago indonésio.
Passou depois a agente comercial de importações-exportações ao serviço de diversas empresas francesas, dedicando-se a negócios obscuros de honestidade duvidosa que o levaram a destinos tão variados como Java, Chipre, Etiópia e o Egito.
Em 1886 surgiu Illuminations, numa edição realizada por Verlaine. A obra restabeleceu a reputação de Rimbaud como poeta, graças à sua profundidade espiritual, em que o autor demonstrava a sua preferência pelo humano em detrimento do divino.
Em fevereiro de 1891, Rimbaud viu a sua alma de caminhante mutilada, quando em Marselha começou a sentir fortes dores no joelho esquerdo. Foi-lhe diagnosticado um cancro e a perna teve que ser amputada. Após um período de alucinações e transes, Rimbaud acabou por falecer em Marselha a 10 de novembro de 1891. O seu último escrito, Lettre au Directeur des Messageries Maritimes, conta-se entre o melhor que a lucidez do poeta nos soube dar. (Daqui)
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