Bruno Liljefors (Swedish artist, 1860 –1939), Anna, 1885.
Nunca serei vencida
Nunca serei vencida.
Não o serei
senão à força de vencer.
Cada armadilha estendida
fechando-me cada vez mais
no amor
que acabará por ser o meu
túmulo,
acabarei a minha vida numa cela
de vitórias.
Sozinha,
a derrota encontra chaves,
abre portas.
A morte,
para atingir o fugitivo,
tem de se pôr em movimento,
perder essa fixidez
que nos faz reconhecer
que ela é o duro contrário
da vida.
Ela dá-nos o fim do cisne
atingido em pleno voo,
de Aquiles agarrado pelos cabelos
por não sabermos que sombria Razão.
Como a mulher asfixiada no vestíbulo
da sua casa de Pompeia,
a morte não faz mais do que prolongar
no outro mundo os corredores
da fuga.
A minha morte será
de pedra.
Conheço as passagens,
as curvas,
as armadilhas,
todas as minas da Fatalidade.
Não posso perder-me.
A morte,
para me matar,
terá necessidade da minha
cumplicidade.
Marguerite Yourcenar
Tradução de Maria da Graça Morais Sarmento
Sem comentários:
Enviar um comentário