domingo, 11 de outubro de 2020

"Alba" - Poema de Ezra Pound


Maurice Delondre, On the Omnibus, 1880 

 

Alba
 
 
Enquanto o rouxinol à sua amante
Gorjeia a noite inteira e o dia entrante
Com meu amor observo arfante
Cada flor,
Cada odor,
Até que o vigilante lá da torre
Grite:
“Levanta patife, sus!
Que a noite morre…” 
 

Tradução de Mário Faustino,
do livro “Ezra Pound: poesia”
 
 
 

Poeta, tradutor e crítico norte-americano, Ezra Loomis Pound nasceu em 1885 em Hailey, Idaho. Cresceu em Wyncote, perto de Filadélfia e formou-se na universidade de Pennsylvania em 1906. Durante um breve período deu aulas em Crawfordsville, Indiana, e entre 1906-1907 viajou por Espanha, Itália e França. 
 
O seu primeiro livro de poemas, A Lume Spento, foi publicado em Veneza em 1908. Nesse ano fixou-se em Londres, onde viveu até 1920 e onde travou conhecimento com alguns dos mais importantes escritores da época: Ford Madox Ford, James Joyce, Wyndham Lewis, W. B. Yeats e T. S. Eliot, entre outros. 
 
Em 1909 publicou Personae e Exultations, a que se seguiu um volume de ensaios críticos intitulado The Spirit of Romance (1910). Entre 1914-15 foi coeditor da revista do movimento Vorticista, Blast. Em Londres teve ainda a seu cargo a edição da revista de Chicago Little Review (1917-19) e a partir de 1920 tornou-se correspondente da publicação The Dial na capital francesa, para onde se mudou em 1921. Datam de 1920 as publicações de um segundo volume de textos críticos, Instigations, e de Hugh Selwyn Mauberley, uma das suas obras-primas. O poema Homage to Sextus Propertius foi publicado no ano anterior (1919).
 
 Conhecedor das literaturas europeia e oriental, Pound associou-se desde muito cedo à escola dos imagistas, que liderou de forma particularmente enérgica. Os adeptos desta corrente poética, fundada em 1912 sob inspiração das ideias de T. E. Hulme (1886-1917), pretendiam explorar de forma disciplinada as potencialidades da imagem e da metáfora, consideradas a essência da poesia. 
 
O movimento, que Pound abandonou em 1914, teve a sua expressão na revista inglesa The Egoist (iniciada em 1912) e na revista americana Poetry (a partir de 1914). As raízes do movimento encontravam-se fundamentalmente na poesia chinesa e japonesa, mas os imagistas inspiraram-se também na poesia latina, em poemas da tradição medieval inglesa, nas composições poéticas dos trovadores provençais e em alguns poetas italianos. 
 
Nos seus Cantos, publicados numa longa série entre 1917-49 e inacabados, Pound procurou elaborar uma versão moderna da Divina Comédia. A fase de maior proximidade do escritor em relação ao movimento imagista é ilustrada pelas obras Ripostes (1912) e Lustra (1916). 
 
Em 1924 Pound mudou-se para Itália, onde as teorias económicas que defendeu o associaram ao fascismo, tendo chegado a proferir comunicações anti-democráticas na rádio italiana durante a Segunda Guerra Mundial. Nos seus tratados económicos e históricos, Jefferson and/or Mussolini (1935) e Guide to Kulchur (1938), Pound comprometeu-se definitivamente com o fascismo e foi preso em 1945, tendo sido posteriormente repatriado. Considerado mentalmente incapaz, foi internado durante 13 anos num hospital psiquiátrico em Washington. A acusação de traição foi retirada em 1958 e Pound voltou a Itália depois da sua libertação. Trabalhou nos seus Cantos até 1972, ano da sua morte. 
 
A obra, carregada de citações e alusões históricas, permanece uma das mais controversas da poesia deste século. A influência de Ezra Pound e do seu projeto de renovação da linguagem poética fez-se sentir em Joyce, Yeats, William Carlos Williams e particularmente em T. S. Eliot, que submeteu o manuscrito da sua obra The Waste Land à apreciação de Pound antes de o publicar (1922). As correções feitas por Pound mereceram-lhe a dedicatória de Eliot: "For Ezra Pound, il miglior fabbro" (A Ezra Pound, o melhor artífice). (Daqui)
 

Maurice Delondre, Visit to the Fortune-Teller, 1888
 
(Born in Paris, by 1882, the painter Maurice Delondre was already a pupil of Alexandre Cabanel (1823-1889). He exhibited regularly at the Paris Salon between 1882 and 1888. During the early 1880s Maurice Delondre lived at 32 rue de Washington in Paris; his neighbour at number 34 was the famous fortune-teller Blanche de Kerastel. His work "Dans l'omnibus" (1880) hangs in the Musee Carnavalet.) 


A Essência do Progresso
 
- Lá porque vivemos em eretos edifícios não quer dizer que não vivamos afinal em cavernas. De resto cada homem vive mergulhado na penumbra da caverna que ele próprio é. E somos todos primitivos porque como o futuro está constantemente a cumprir-se, para os que vierem depois de nós seremos sempre velhos, depois antigos e depois primitivos. A essência do progresso consiste no eterno insistir sobre um mesmo esquema.
- Mas que progresso é esse que se baseia na eterna repetição de si próprio?
- A descoberta gradual da permanência do esquema.
 
 
Ana Hatherly, in 'O Mestre'


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