Alba
Enquanto o rouxinol à sua amante
Gorjeia a noite inteira e o dia entrante
Com meu amor observo arfante
Cada flor,
Cada odor,
Até que o vigilante lá da torre
Grite:
“Levanta patife, sus!
Gorjeia a noite inteira e o dia entrante
Com meu amor observo arfante
Cada flor,
Cada odor,
Até que o vigilante lá da torre
Grite:
“Levanta patife, sus!
Que a noite morre…”
Ezra Pound by Wyndham Lewis, 1939
Poeta,
tradutor e crítico norte-americano, Ezra Loomis Pound nasceu em 1885
em Hailey, Idaho. Cresceu em Wyncote, perto de Filadélfia e formou-se na
universidade de Pennsylvania em 1906. Durante um breve período deu
aulas em Crawfordsville, Indiana, e entre 1906-1907 viajou por Espanha,
Itália e França.
O seu primeiro livro de poemas, A Lume Spento,
foi publicado em Veneza em 1908. Nesse ano fixou-se em Londres, onde
viveu até 1920 e onde travou conhecimento com alguns dos mais
importantes escritores da época: Ford Madox Ford, James Joyce, Wyndham
Lewis, W. B. Yeats e T. S. Eliot, entre outros.
Em 1909 publicou Personae e Exultations, a que se seguiu um volume de ensaios críticos intitulado The Spirit of Romance (1910). Entre 1914-15 foi coeditor da revista do movimento Vorticista, Blast. Em Londres teve ainda a seu cargo a edição da revista de Chicago Little Review (1917-19) e a partir de 1920 tornou-se correspondente da publicação The Dial na capital francesa, para onde se mudou em 1921. Datam de 1920 as publicações de um segundo volume de textos críticos, Instigations, e de Hugh Selwyn Mauberley, uma das suas obras-primas. O poema Homage to Sextus Propertius
foi publicado no ano anterior (1919).
Conhecedor das literaturas
europeia e oriental, Pound associou-se desde muito cedo à escola dos
imagistas, que liderou de forma particularmente enérgica. Os adeptos
desta corrente poética, fundada em 1912 sob inspiração das ideias de T.
E. Hulme (1886-1917), pretendiam explorar de forma disciplinada as
potencialidades da imagem e da metáfora, consideradas a essência da
poesia.
O movimento, que Pound abandonou em 1914, teve a sua expressão
na revista inglesa The Egoist (iniciada em 1912) e na revista americana Poetry
(a partir de 1914). As raízes do movimento encontravam-se
fundamentalmente na poesia chinesa e japonesa, mas os imagistas
inspiraram-se também na poesia latina, em poemas da tradição medieval
inglesa, nas composições poéticas dos trovadores provençais e em alguns
poetas italianos.
Nos seus Cantos, publicados numa longa série entre 1917-49 e inacabados, Pound procurou elaborar uma versão moderna da Divina Comédia. A fase de maior proximidade do escritor em relação ao movimento imagista é ilustrada pelas obras Ripostes (1912) e Lustra
(1916).
Em 1924 Pound mudou-se para Itália, onde as teorias económicas
que defendeu o associaram ao fascismo, tendo chegado a proferir
comunicações anti-democráticas na rádio italiana durante a Segunda
Guerra Mundial. Nos seus tratados económicos e históricos, Jefferson and/or Mussolini (1935) e Guide to Kulchur
(1938), Pound comprometeu-se definitivamente com o fascismo e foi preso
em 1945, tendo sido posteriormente repatriado. Considerado mentalmente
incapaz, foi internado durante 13 anos num hospital psiquiátrico em
Washington. A acusação de traição foi retirada em 1958 e Pound voltou a
Itália depois da sua libertação. Trabalhou nos seus Cantos até
1972, ano da sua morte.
A obra, carregada de citações e alusões
históricas, permanece uma das mais controversas da poesia deste século. A
influência de Ezra Pound e do seu projeto de renovação da linguagem
poética fez-se sentir em Joyce, Yeats, William Carlos Williams e
particularmente em T. S. Eliot, que submeteu o manuscrito da sua obra The Waste Land à apreciação de Pound antes de o publicar (1922). As correções feitas por Pound mereceram-lhe a dedicatória de Eliot: "For Ezra Pound, il miglior fabbro" (A Ezra Pound, o melhor artífice). (Daqui)
Maurice Delondre, Visit to the Fortune-Teller, 1888
(Born in Paris, by 1882, the painter Maurice Delondre was already a pupil of Alexandre Cabanel (1823-1889). He exhibited regularly at the Paris Salon between 1882 and 1888. During the early 1880s Maurice Delondre lived at 32 rue de Washington in Paris; his neighbour at number 34 was the famous fortune-teller Blanche de Kerastel. His work "Dans l'omnibus" (1880) hangs in the Musee Carnavalet.)
A Essência do Progresso
- Lá porque vivemos em eretos edifícios não quer dizer que não
vivamos afinal em cavernas. De resto cada homem vive mergulhado na
penumbra da caverna que ele próprio é. E somos todos primitivos porque
como o futuro está constantemente a cumprir-se, para os que vierem
depois de nós seremos sempre velhos, depois antigos e depois primitivos.
A essência do progresso consiste no eterno insistir sobre um mesmo
esquema.
- Mas que progresso é esse que se baseia na eterna repetição de si próprio?
- A descoberta gradual da permanência do esquema.
- Mas que progresso é esse que se baseia na eterna repetição de si próprio?
- A descoberta gradual da permanência do esquema.
Ana Hatherly, in 'O Mestre'
Sem comentários:
Enviar um comentário